São Paulo, terça, 1 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Funcionários planejam vida

do enviado especial

O sol já aparecia sobre a cobertura das favelas da Baixada Fluminense quando o "ferromoço" José Domingos avisou: "Em meia hora vamos chegar à estação. O Trem de Prata vai acabar".
Eram 7h, e os funcionários falavam de seus projetos de vida. "Espero que a empresa nos realoque nos cargueiros", disse o maquinista Ronaldo Rodrigues Mota, que comandou a locomotiva 3148-1 na primeira viagem do Trem de Prata, em 94.
Às 7h10, a paisagem é semelhante à do filme "Central do Brasil": prédios malconservados cobertos por varais. Meninos cheirando cola e fumando maconha. O trem está devagar, a 20 km/h, e passa ao lado do morro da Mangueira. O gerente do trem, Luís Duarte, só falava do churrasco organizado para ontem. Ele não sabe onde vai trabalhar. Alguns funcionários fazem fotos dos amigos.
Domingos contou que já se acostumou a dormir com o barulho dos trilhos. "Eu não suporto trabalhar em um escritório fechado. Talvez volte para São Paulo e trabalhe em um restaurante."
Em cinco minutos a viagem acabaria. O barman Tom de Carvalho lembrou viajantes famosos: "Vinícius de Morais, Fábio Júnior, Pedro Cardoso, Elza Soares...".
Às 7h31, o maquinista Ronaldo puxou a alavanca do freio manual pela última vez. "É o fim da festa", disse José Domingos.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.