São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2000


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CHUVAS
Laudo aponta que falhas na obra de drenagem de escola teria provocado deslizamento no morro da Lua
IPT culpa prefeitura por deslizamento

CONRADO CORSALETTE
da "Agora São Paulo"

O deslizamento que matou 12 pessoas na segunda-feira no morro da Lua, no Campo Limpo (zona sul de São Paulo), foi causado por falhas na obra de drenagem executada pela SSO (Secretaria de Serviços e Obras) junto a uma escola municipal.
A conclusão é de um laudo elaborado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que enviou técnicos à favela de Campo Limpo anteontem.
Toda a água da chuva acabou sendo despejada sobre o aterro. A terra não resistiu e cedeu, causando a tragédia na segunda-feira.
O relatório será entregue na semana que vem para a Defesa Civil Estadual, que o encomendou. Ainda não há data prevista para a sua divulgação.
Segundo Eduardo Macedo, geólogo do IPT, um dos técnicos que elaborou o laudo, duas canaletas de drenagem do morro da Lua estavam entupidas, devido, provavelmente, ao abandono ou falta de fiscalização da prefeitura.
Com isso, a água escorria pelo morro e era jogada para uma terceira canaleta, que desembocava exatamente sobre o aterro que deslizou.
"Para que um aterro seja bem feito, é preciso um solo de boa qualidade, uma forte compactação e um sistema de drenagem que funcione. Nesse caso, havia problemas na drenagem e a água era jogada no aterro, o que é um erro", disse Macedo.
Segundo ele, a escola que fica ao lado de onde houve o deslizamento só não desmoronou porque foi construída fora da área do aterro.
O deslizamento aconteceu na noite de segunda-feira. Os bombeiros trabalharam durante toda a noite para encontrar vítimas. Ontem, os corpos das vítimas foram enterrados. Horas antes, às 3h25, novo deslizamento no Jardim Capelinha matou mais uma pessoa.
Os moradores do morro da Lua já haviam apontado o aterro na escola como uma das prováveis causas do acidente.
O secretário da Comunicação Social da prefeitura, Antenor Braido, disse que hoje uma equipe do Contru (Departamento de Uso e Controle de Imóveis) irá ao local para fazer um laudo sobre os motivos do deslizamento.
De acordo com o secretário, no local há duas tubulações da Petrobras -uma de gás e outra de combustível. Braido lembrou que o terreno pertence à Eletropaulo Metropolitana. Ele afirmou que a prefeitura havia notificado os moradores a abandonarem a área, mas eles se recusaram.
Em 31 de agosto passado, a prefeitura entrou com um ação na 4ª Vara, pedindo que a Justiça determine a desocupação do terreno.
Anteontem, o prefeito Celso Pitta disse não acreditar na hipótese de a obra na escola ter provocado o deslizamento de terras que causou a morte dos 12 moradores.
Pitta afirmou que os moradores haviam alterado o talude da área, o que, segundo ele, teria contribuído para o acidente.

Nova República
Em 1989, um deslizamento semelhante deixou 14 vítimas fatais na favela Nova República, no Butantã (zona sudoeste). Seis pessoas acabaram condenadas a dois anos de prisão em regime aberto, entre elas o empresário dono do terreno onde ficava o aterro clandestino, dois engenheiros e dois fiscais da Regional de Butantã. A prefeitura foi absolvida.


Colaborou Chico de Gois, da Reportagem Local

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