da Reportagem Local

"Posso falar sobre qualquer assunto, contanto que não sejam essas minhas peripécias policialescas", disse o documentarista João Moreira Salles, mas quebrou sua promessa minutos depois.
A frase foi dita na manhã de ontem para cerca de 150 estudantes que o esperavam no auditório da Escola de Comunicações e Artes da USP. Foi a primeira aparição pública de Salles após a revelação de seu envolvimento com o traficante Marcinho VP.
O diretor havia prometido, há três semanas, realizar uma palestra sobre documentários na 1ª Semana do Audiovisual da ECA. Não imaginava que estaria às voltas com essa polêmica, mas cumpriu sua palavra.
Atrasou-se 15 minutos. "Ele se perdeu no campus. É carioca", falou o anfitrião Carlos Augusto Calil, professor que organizou o ciclo. Antes da palestra, os alunos haviam assistido ao vídeo "Notícias de uma Guerra Particular", sobre o tráfico de drogas no Rio.
Salles falou das dificuldades de fazer documentário. "É preciso muito cuidado para que, em nome de sua obra, você não explore pessoas em momentos de miséria humana", disse.
"Foi por isso que você retirou as entrevistas realizadas com Marcinho VP?", perguntaram.
"Não. Quando filmei o Márcio, ele já queria sair do tráfico. Então fizemos um acordo, como entre jornalista e fonte. Ele disse: "Você só pode colocar a entrevista se, no momento em que ela for ao ar, eu já tiver saído do morro". Aceitei."
Segundo ele, Marcinho disse que a polícia reagiria com truculência se o assistisse dando entrevistas. "É como se fosse uma ofensa à polícia o cara foragido estar lá dando entrevista", falou Salles.
E comentou sobre o próximo projeto. "Caso não seja preso", comentou, sob risadas da platéia, "tenho um vídeo sobre o fenômeno das igrejas evangélicas".
Salles encerrou a conversa às 12h40 e saiu para tomar a ponte aérea. "Preciso depor hoje", falou, sob aplausos dos estudantes.


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