São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARNAVAL
Arquidiocese do Rio considera que a exibição de objetos de culto no Sambódromo é ofensa ao catolicismo
Polícia apreende cruz da Unidos da Tijuca

da Sucursal do Rio

A polícia apreendeu ontem, a pedido da Arquidiocese do Rio, um painel com a imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança e uma cruz com cerca de 4 m de altura, que fariam parte do desfile da Unidos da Tijuca no Carnaval.
O cardeal-arcebispo do Rio, d. Eugenio Sales, considera que a exibição desses objetos de culto no Sambódromo representaria uma ofensa à religião católica e enviou uma notícia-crime à Secretaria da Segurança Pública do Estado. O caso foi passado ao chefe de Polícia Civil, Rafik Louzada, que determinou uma busca no barracão da escola.
Além de apreender o painel e a cruz, o delegado Carlos Heitor Sanches, da 4ª Delegacia Policial, indiciou o carnavalesco da Unidos da Tijuca, Chico Spinoza, sob acusação de crime de vilipêndio, previsto no artigo 208 do Código Penal, que prevê pena de um mês a um ano de detenção.
O presidente da Unidos da Tijuca, João Manuel Paredes, também será indiciado.
O delegado Ney Galhardo, que chefiou a operação, disse que constatou o suposto vilipêndio. "Há um uso inadequado de símbolos religiosos, porque o Carnaval é uma festa pagã", afirmou.
Galhardo afirmou que não houve necessidade de medida judicial determinando a apreensão por se tratar de suposto "crime de ação pública incondicionada". "É como se eu fizesse uma apreensão de mercadoria contrabandeada em um camelô."
Em depoimento, Spinoza disse que a imagem da santa e a cruz -esta envolta em um véu, que representaria o do Cristo morto- se inserem no enredo, que trata do Descobrimento do Brasil.
"Não vejo nenhum tipo de agressão, não tenho nenhuma intenção disso. Apenas conto a história do Brasil", afirmou o carnavalesco, que não pretende substituir os objetos apreendidos. "Ou mostro a verdade, mesmo que carnavalizada, ou não mostro. Vai ser uma missa sem cruz."
O advogado da Unidos da Tijuca, Nelson de Almeida, disse que ainda se reuniria com a direção da escola para decidir se tomaria alguma providência judicial.
"Não libero (os objetos apreendidos) de jeito nenhum", disse o delegado Sanches. "Se colocarem outra imagem no desfile, vou lá e autuo em flagrante." O caso seguirá agora para um Juizado Especial Criminal, onde Spinoza e Paredes terão que comparecer.
Essa não é a primeira vez que a Igreja Católica consegue evitar a apresentação de símbolos religiosos pelas escolas de samba.
O caso mais célebre ocorreu em 1989, quando a escultura de um Cristo mendigo que seria exibido no desfile da Beija-Flor teve que ser coberta com um pano por força de decisão judicial.


Texto Anterior: Repartições de SP fecham amanhã
Próximo Texto: Igreja tenta barrar "Pietá"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.