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CARNAVAL
Arquidiocese do Rio considera que a exibição de objetos de culto no Sambódromo é ofensa ao catolicismo
Polícia apreende cruz da Unidos da Tijuca
da Sucursal do Rio
A polícia apreendeu ontem, a
pedido da Arquidiocese do Rio,
um painel com a imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança e
uma cruz com cerca de 4 m de altura, que fariam parte do desfile
da Unidos da Tijuca no Carnaval.
O cardeal-arcebispo do Rio, d.
Eugenio Sales, considera que a
exibição desses objetos de culto
no Sambódromo representaria
uma ofensa à religião católica e
enviou uma notícia-crime à Secretaria da Segurança Pública do
Estado. O caso foi passado ao chefe de Polícia Civil, Rafik Louzada,
que determinou uma busca no
barracão da escola.
Além de apreender o painel e a
cruz, o delegado Carlos Heitor
Sanches, da 4ª Delegacia Policial,
indiciou o carnavalesco da Unidos da Tijuca, Chico Spinoza, sob
acusação de crime de vilipêndio,
previsto no artigo 208 do Código
Penal, que prevê pena de um mês
a um ano de detenção.
O presidente da Unidos da Tijuca, João Manuel Paredes, também
será indiciado.
O delegado Ney Galhardo, que
chefiou a operação, disse que
constatou o suposto vilipêndio.
"Há um uso inadequado de símbolos religiosos, porque o Carnaval é uma festa pagã", afirmou.
Galhardo afirmou que não houve necessidade de medida judicial
determinando a apreensão por se
tratar de suposto "crime de ação
pública incondicionada". "É como se eu fizesse uma apreensão
de mercadoria contrabandeada
em um camelô."
Em depoimento, Spinoza disse
que a imagem da santa e a cruz
-esta envolta em um véu, que representaria o do Cristo morto-
se inserem no enredo, que trata
do Descobrimento do Brasil.
"Não vejo nenhum tipo de
agressão, não tenho nenhuma intenção disso. Apenas conto a história do Brasil", afirmou o carnavalesco, que não pretende substituir os objetos apreendidos. "Ou
mostro a verdade, mesmo que
carnavalizada, ou não mostro.
Vai ser uma missa sem cruz."
O advogado da Unidos da Tijuca, Nelson de Almeida, disse que
ainda se reuniria com a direção da
escola para decidir se tomaria alguma providência judicial.
"Não libero (os objetos apreendidos) de jeito nenhum", disse o
delegado Sanches. "Se colocarem
outra imagem no desfile, vou lá e
autuo em flagrante." O caso seguirá agora para um Juizado Especial Criminal, onde Spinoza e
Paredes terão que comparecer.
Essa não é a primeira vez que a
Igreja Católica consegue evitar a
apresentação de símbolos religiosos pelas escolas de samba.
O caso mais célebre ocorreu em
1989, quando a escultura de um
Cristo mendigo que seria exibido
no desfile da Beija-Flor teve que
ser coberta com um pano por força de decisão judicial.
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