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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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Projetos para a Vila Cruzeiro ficam no papel

TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quase nove meses depois do assassinato do repórter Tim Lopes, da Rede Globo, a maioria dos projetos sociais anunciados para a favela da Vila Cruzeiro (zona norte do Rio), onde ele foi capturado por traficantes, não saiu do papel ou funciona de maneira precária.
Os anúncios feitos na época pelos governos estadual e municipal, por organizações não-governamentais (ONGs) e pela iniciativa privada tinham o objetivo da diminuir a influência do tráfico de drogas não somente na vila, mas em toda área dos complexos de favelas do Alemão e da Penha, onde vivem cerca de 120 mil pessoas.
Tim Lopes foi sequestrado na noite do dia 2 de junho, quando fazia uma reportagem sobre prostituição de menores em bailes funk. Ele foi torturado e assassinado na vizinha favela da Grota, já no complexo do Alemão.
Um dos projetos anunciados na gestão da governadora Benedita da Silva (PT) foi a instalação de um grupamento policial para melhorar o relacionamento entre a polícia e as comunidades.
O grupamento foi inaugurado em setembro, na Vila Cruzeiro. Cinco meses depois, no entanto, não funciona como deveria, segundo seu comandante, major Lucídio Vasconcelos. Os 113 policiais -treinados em "estratégia de polícia comunitária"- nunca tiveram reuniões com moradores.
"O grupamento era para vir a reboque de uma ação conjunta do Estado com ONGs e empresas privadas, para não ser mais uma ocupação policial", disse.
O presidente da Associação de Moradores da Vila Cruzeiro, Antônio Tibúrcio, 32, disse ter participado de várias reuniões. "Eu tenho um banco de dados de promessas: posto de saúde, cursos pré-vestibular e de capacitação profissional, mas nada chegou. Fomos mais uma vez enganados", afirmou Tibúrcio.
Com a exceção de um programa de capacitação profissional da Secretaria do Trabalho, que oferece 30 vagas, nenhum projeto permanente foi instalado nos dois complexos. Durante dois dias, em agosto, ocorreu um mutirão de secretarias estaduais para a emissão de documentos, consultas médicas e cadastramento em um banco de oferta de trabalho.
Para Tibúrcio, só uma nova ocorrência grave fará os governos voltarem a dar atenção ao bairro.



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