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ESTRANHOS NO PARAÍSO
Mineiro entrou no país pelo México
Corpo de imigrante ilegal brasileiro é identificado pela polícia dos EUA
FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON
Uma calça da marca Zoomp e
um anel de noivado com um nome gravado eram tudo que o detetive Michael Wu, da polícia de
Laredo, no Texas, tinha para identificar um jovem encontrado
morto na entrada de um condomínio de luxo no dia 11 de janeiro.
Com base no país indicado pela
etiqueta da calça, Wu notificou o
Consulado do Brasil em Houston.
No dia 13 de fevereiro, a ligação de
uma brasileira que mora nos Estados Unidos ao consulado descreveu o anel, que tinha gravado
um nome, Gyslayne, e uma data,
14 de abril de 2001.
Assim foi confirmada a primeira morte neste ano de um brasileiro que tentou ir ilegalmente do
México para os Estados Unidos.
Perfil típico
O perfil de Wendell Johnatan
Pereira, 23, é de um típico imigrante ilegal brasileiro. Nascido
em Governador Valadares (MG),
ganhava R$ 400 como funcionário público e não concluiu o ensino médio. Queria trabalhar na
Flórida três anos e juntar dinheiro
para se casar.
Quando a identidade foi descoberta, o corpo de Wendell já havia
sido enterrado como "John Doe",
nome dado nos Estados Unidos
aos indigentes mortos.
Agora, com a ajuda dos agenciadores que organizaram a viagem
do rapaz, a família tenta trazer o
corpo de volta ao Brasil, a um custo de US$ 8.000. Pela travessia para os EUA, Wendell teria um ano
para pagar US$ 10 mil.
As circunstâncias da morte são
um mistério. Segundo a irmã,
Weslayne, 19, ele ligou no fim da
tarde do dia da morte para a noiva. Com asma, queria que ela procurasse o agenciador e pedisse a
ele que enviasse ajuda.
Às 19h30, ligou novamente para
Gyslayne, dizendo que um carro
chegara ao hotel para levá-lo a um
hospital. Foi o último contato. Às
22h, foi achado morto, sem sinais
de violência, mas longe do hospital ou do hotel. "Ou ele morreu
sem atendimento ou foi assassinado", disse a irmã à Folha.
Ela não quis revelar o nome do
agenciador por temer represálias.
"A chantagem que eles fazem é esta: se fizermos a denúncia, eles
não vão pagar", conta ela, referindo-se às despesas para o traslado
do corpo de Wendell.
Segundo a família, o jovem e outros imigrantes de Governador
Valadares cruzaram a fronteira
em 25 de dezembro. No dia seguinte, ele chegou ao hotel em Laredo e ficou esperando para ser levado à Flórida. "Todo mundo terminou a viagem. Somente ele ficou para trás", afirma a irmã.
"Mas o porquê disso só Deus sabe. E os coiotes [que conduzem os
imigrantes durante a travessia]."
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