São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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ESTRANHOS NO PARAÍSO

Mineiro entrou no país pelo México

Corpo de imigrante ilegal brasileiro é identificado pela polícia dos EUA

FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON

Uma calça da marca Zoomp e um anel de noivado com um nome gravado eram tudo que o detetive Michael Wu, da polícia de Laredo, no Texas, tinha para identificar um jovem encontrado morto na entrada de um condomínio de luxo no dia 11 de janeiro.
Com base no país indicado pela etiqueta da calça, Wu notificou o Consulado do Brasil em Houston. No dia 13 de fevereiro, a ligação de uma brasileira que mora nos Estados Unidos ao consulado descreveu o anel, que tinha gravado um nome, Gyslayne, e uma data, 14 de abril de 2001.
Assim foi confirmada a primeira morte neste ano de um brasileiro que tentou ir ilegalmente do México para os Estados Unidos.

Perfil típico
O perfil de Wendell Johnatan Pereira, 23, é de um típico imigrante ilegal brasileiro. Nascido em Governador Valadares (MG), ganhava R$ 400 como funcionário público e não concluiu o ensino médio. Queria trabalhar na Flórida três anos e juntar dinheiro para se casar.
Quando a identidade foi descoberta, o corpo de Wendell já havia sido enterrado como "John Doe", nome dado nos Estados Unidos aos indigentes mortos.
Agora, com a ajuda dos agenciadores que organizaram a viagem do rapaz, a família tenta trazer o corpo de volta ao Brasil, a um custo de US$ 8.000. Pela travessia para os EUA, Wendell teria um ano para pagar US$ 10 mil.
As circunstâncias da morte são um mistério. Segundo a irmã, Weslayne, 19, ele ligou no fim da tarde do dia da morte para a noiva. Com asma, queria que ela procurasse o agenciador e pedisse a ele que enviasse ajuda.
Às 19h30, ligou novamente para Gyslayne, dizendo que um carro chegara ao hotel para levá-lo a um hospital. Foi o último contato. Às 22h, foi achado morto, sem sinais de violência, mas longe do hospital ou do hotel. "Ou ele morreu sem atendimento ou foi assassinado", disse a irmã à Folha.
Ela não quis revelar o nome do agenciador por temer represálias. "A chantagem que eles fazem é esta: se fizermos a denúncia, eles não vão pagar", conta ela, referindo-se às despesas para o traslado do corpo de Wendell.
Segundo a família, o jovem e outros imigrantes de Governador Valadares cruzaram a fronteira em 25 de dezembro. No dia seguinte, ele chegou ao hotel em Laredo e ficou esperando para ser levado à Flórida. "Todo mundo terminou a viagem. Somente ele ficou para trás", afirma a irmã. "Mas o porquê disso só Deus sabe. E os coiotes [que conduzem os imigrantes durante a travessia]."


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