São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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URBANISMO

CET recusou idéia na gestão Marta por temer acidentes; proposta de permitir carro, cogitada por Serra, preocupa tucanos

Estudo vê risco em abertura de calçadão

ALENCAR IZIDORO
AMARÍLIS LAGE
REPORTAGEM LOCAL

A proposta de abertura de calçadões do centro de São Paulo ao tráfego de veículos, cogitada pela equipe do prefeito José Serra (PSDB), já foi alvo de estudo da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) há menos de dois anos, na gestão Marta Suplicy (PT), mas acabou rejeitada sob a alegação de que aumentaria os riscos de atropelamento, deixaria entupidas as ruas do entorno por falta de vagas de estacionamento e estimularia a utilização da área somente para cortar caminho.
A idéia é polêmica entre especialistas, tem seus defensores, mas enfrenta a resistência até mesmo de tucanos históricos, como Cláudio de Senna Frederico, ex-secretário dos Transportes Metropolitanos do governo Covas/Alckmin e que ajudou na elaboração do programa de governo de Serra.
A intenção tucana foi manifestada pelo subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, a partir de sugestão da associação Viva o Centro, para quem a maior flexibilidade nos acessos aos espaços reservados para pedestres desde os anos 70 ajudaria a revitalizar a área.
Matarazzo diz que analisa a viabilidade de abrir todos os calçadões do centro e que os estudos devem ficar prontos em dez dias. Segundo ele, alguns poderão ser abertos aos veículos 24 horas por dia, uns só no período da noite e outros em nenhuma ocasião.
Ele cogita ainda a possibilidade de todos terem canaletas reservadas para carros de serviço, como da polícia e de ambulâncias. Entre alguns alvos preferenciais estão os espaços do vale do Anhangabaú.
O tema é visto com preocupação por integrantes da própria gestão Serra. "Em São Paulo, a pressão dos automóveis é tão violenta que há perigo de perder os calçadões de uma vez, que os carros tomem conta e degradem ainda mais", afirma Cândido Malta, urbanista nomeado pelo prefeito como conselheiro da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), para quem a discussão merece "muita prudência".
O estudo da CET na administração Marta Suplicy fez um mapeamento da circulação e dos acidentes nos calçadões da rótula central e nas vias de tráfego seletivo do entorno. Ele identificou que algumas áreas chegam a receber mais de 10 mil pedestres por hora, superior à população inteira de quase metade dos municípios do Brasil. O calçadão da Barão de Itapetininga é um dos casos, localizado numa região que também está entre os alvos da equipe tucana.
Os riscos de potencializar acidentes foram levantados a partir da situação das vias próximas. Mesmo tendo um tráfego seletivo e controlado, que não permite altas velocidades, por exemplo, a rua Sete de Abril teve registrados três acidentes com vítima, nove sem vítima e dois atropelamentos num intervalo de 12 meses.
O viaduto do Chá, rodeado por calçadões e com tráfego misto, teve seis acidentes com vítimas, 12 sem vítima e dez atropelamentos nesse período.
Até espaços supostamente exclusivos para pedestres, mesmo com restrição ao trânsito motorizado, já chegaram a computar acidentes, por haver falhas no controle -na própria Barão de Itapetininga, ocorreram dois atropelamentos em 1999.
Os dados levantados levaram à rejeição da idéia de mudança nos calçadões, mesmo com a entrada restrita de veículos, por considerar que os riscos já existentes no entorno se repetiriam.
O estudo considerou ainda haver uma oferta de vagas para estacionar na região inferior à demanda -43 mil, contra 48 mil.


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