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TRANSPORTES
Em depoimento a promotores, empresários de ônibus não explicam uso de documento em contrato com prefeitura
Viações omitem origem de garantias falsas
FABIO SCHIVARTCHE
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em depoimento ao Ministério
Público nesta semana, empresários de ônibus de São Paulo omitiram a origem das garantias falsificadas utilizadas por eles nos contratos do transporte coletivo, os
mais caros da prefeitura paulistana -R$ 12,3 bilhões por dez anos.
Obrigatórias, as garantias são
uma espécie de seguro particular
para que a prefeitura seja ressarcida por uma instituição bancária
em caso de eventuais problemas
com as empresas contratadas.
Em dezembro de 2004, a Folha
revelou que os consórcios vencedores da licitação apresentaram
como garantia cartas de fiança falsas do BNA (Banco de La Nación
Argentina). Dizendo-se vítimas
da fraude, os empresários passaram a trocar as garantias em poder da prefeitura por outras válidas. Mas se negavam a revelar à
imprensa de quem haviam comprado as cartas falsas.
Nesta semana, dois meses depois de o caso tornar-se público,
quatro empresários foram intimados pelo Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado do Ministério Público a
dar explicações sobre o caso.
Três deles disseram não saber
como as cartas falsas foram anexadas aos contratos de suas empresas, sendo que dois até negam
o uso das garantias do BNA
-contestando informação oficial
da prefeitura e do Tribunal de
Contas do Município.
José Ruas Vaz, que controla
com seus sócios mais de metade
da frota de ônibus paulistana,
afirmou não saber quem ficou
responsável por apresentar documentos na licitação. Disse que está afastado das empresas e que
não saberia nem citar quais são as
viações de seu grupo.
O único que indicou um caminho para os promotores foi Carlos de Abreu, sócio da viações VIP
e Bristol. Disse que "os sócios haviam adquirido tais garantias [as
falsificadas] de corretores indicados pelo proprietário da Orla Administração e Corretagem de Seguros", Leo Acherboim. Não revelou, porém, quem seria o vendedor final dos papéis.
Sua informação contradiz o depoimento de seu próprio sócio na
VIP, Delfim Alves de Figueiredo,
que afirma ter sido "sondado" pelo dono da Orla, mas que desistiu
do negócio porque os preços
eram muito altos.
Procurado pela Folha ontem,
Acherboim negou envolvimento
na venda das garantias. "Esses
empresários que disseram isso, eu
não aceito. Não é verdade."
Operação de risco
João Roberto de Holanda Campos Jr., gerente do consórcio Viasul, admitiu em seu depoimento
que operou por cinco meses em
2004 sem nenhuma garantia. E Figueiredo, da VIP, afirmou que sua
empresa está operando nos dias
de hoje sem garantia financeira.
Ontem, o secretário municipal
dos Transportes, Frederico Bussinger, confirmou que pelo menos dois dos oito consórcios estão
operando sem nenhum tipo de
garantia (leia texto abaixo).
O Ministério Público está investigando a prática de eventual crime contra a lei de licitações.
"Queremos descobrir quem está
por trás da venda dos documentos falsos", diz o promotor Christiano Santos. "As empresas se dizem inocentes e vítimas de fraude. Mas é curioso que todos os
consórcios, que têm sócios em comum, tenham utilizado papéis
falsos semelhantes", afirma.
O vice-presidente do TCM (Tribunal de Contas do Município),
Edson Simões, recebeu na última
sexta-feira a confirmação de que
as garantias apresentadas pelos
empresários em 2003, no primeiro ano de validade dos contratos,
também eram falsas.
Simões aponta para uma "coincidência": a numeração seqüencial de cinco das cartas falsas. "Se
os empresários dizem que não
compraram as garantias do mesmo vendedor e que não sabiam de
quem seus colegas estavam comprando, como é que os papéis falsos são quase iguais e ainda têm
uma seqüência?", questiona.
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