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Só milagre fará Priscila andar, diz pai da adolescente baleada
PAULO SAMPAIO
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Só um milagre" pode fazer a
menina Priscila Aprígio da Silva, 13, baleada no tiroteio de
Moema, voltar a andar.
Quem diz é o pai da jovem, o
sapateiro desempregado Isaias
Joaquim da Silva, 40 -mas a
afirmação não era confirmada
ontem pelos médicos do hospital Alvorada, onde ela está internada em coma induzido.
"Tenho muita fé em Deus",
diz a mãe da menina, a doméstica Maria de Fátima Aprígio,
47, que trabalha em uma casa
de família na Vila Mariana (zona sul). "Eu apelo para que as
pessoas tenham mais amor, senão pelas suas vidas, pela dos
outros. Esses bandidos não podem pegar uma arma e ficar atirando nas pessoas como se fossem cachorros."
Vizinho e "tio por consideração" de Priscila, o eletricista desempregado Edmilson Ferreira
da Silva, 44, conta que Fátima
recebeu a notícia do tiro da única filha mulher a sangue frio.
"Ela deu um grito e eu corri
para ver o que tinha acontecido. A Fátima ficou muito agoniada, porque o celular da Priscila estava fora do ar. Queria fazer alguma coisa pela filha, mas
se fosse até lá de ônibus, levaria
no mínimo uma hora e meia,
chegaria muito tarde", conta.
Na casa de cinco cômodos
onde a família mora, no Jardim
das Flores, ao lado do Embu das
Artes, a sala de cerca de seis
metros quadrados está cheia de
crianças amontoadas em frente
à TV, a espera da entrevista de
Maria de Fátima Aprígio."É ela,
é ela!", grita um dos meninos.
Jefferson, 16, um dos três irmãos dela, conta que Priscila
vai uma vez por mês à dentista,
para manutenção do aparelho
de dentes, e que a consulta de
ontem havia sido adiada.
"Era para ela ter ido em janeiro", conta o jovem.
Jefferson diz que há mais outros dois irmãos do primeiro
casamento do pai.
Eles se chamam Leandro e
Leonardo, tem 27 e 29 anos, e a
foto deles ainda crianças, tocando violões de brinquedo, está na parede da sala.
Única menina, Priscila é chamada pela mãe de "minha princesa". "Eu não tinha medo.
Sempre que ela saía eu entregava nas mãos de Deus", diz Fátima, devota da igreja adventista.
Os vizinhos definem Priscila
como uma menina agitada, alegre. "Ela é muito vaidosa", conta a amiga Daiane, 14, com
quem Priscila esteve recentemente em uma loja de fotografias no shopping Novo Campo
Limpo e posou maquiada.
"Eles ofereciam a foto de graça, mas a segunda a gente tinha
de pagar. A Priscila queria fazer
o book, mas era muito caro, R$
600", conta.
"Ih, ela é louca por samba",
diz outra amiga, a vizinha Alexandra, 14. Segundo ela, foi em
uma festa há cerca de dois meses que ela conheceu o namorado, o funileiro Jefferson Maciel, 21.
"Quando soube do tiro, achei
que tinham tentado levar o celular bonito dela", conta Jefferson. Ontem, ele foi à cidade
(centro de São Paulo) para dar
uma força a um tio que teve a
moto roubada.
"É uma bomba atrás da outra", comenta o funileiro Ronildo de Souza, irmão do dono da
moto e dono da oficina onde
Jefferson trabalha.
Ele é o segundo namorado de
Priscila. De acordo com uma
amiga que prefere não se identificar, o primeiro também era
mais velho. Tinha 20 anos. A
amiga diz que Priscila gosta
mais de homens experientes.
Os amigos dizem que pretendem fazer uma festa quando
Priscila sair do hospital. "Vamos encomendar uma faixa para pendurar aqui na fachada da
casa", diz Doralice Machado,
33, "tia por consideração".
Doralice, ou Dorinha, conta
que Priscila é do tipo "comilona, mas só gosta de besteira".
"Ela é viciada em Coca-Cola e
salgadinho. E adora queijo e suco de uva", conta.
Rosemeire de Oliveira diz
que a região "é simples, mas
sossegada". Agora, você vê: a
gente mora nos cafundó do Judas, e a menina vai morrer lá no
bairro dos bacanas", diz.
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