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DESABAMENTO 2
Moradores se emocionam ao encontrar fotos, cartas e brinquedos
Nos escombros, famílias
garimpam memória afetiva
trega a morador do edifício Palace 2 relógio localizado nos escombros
Anderson Barros (à dir.) observa,
ao lado de outros moradores do
Palace 2, os trabalhos de remoção dos escombros do edifício
MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio
A estudante de jornalismo Roberta Barros sonha em encontrar
um pequeno hipopótamo de pelúcia que a filha Rebeca, 4, insiste em
pedir de volta. A médica Rosana
Moreira quer achar as fichas perdidas de todos os seus pacientes
em 11 anos de profissão.
A consultora tributária Ana Paulo Affonso se dará por satisfeita se,
das suas fotos, recuperar a que escolheu para um porta-retrato do
seu quarto: ela, o marido Roberto
e o filho João Vítor, 5, vestidos
com a camisa do Flamengo.
O domingo marcou, com esperança, choro, frustração e reencontros, o começo da garimpagem
de objetos nas ruínas do bloco 2 do
condomínio Palace, na Barra da
Tijuca (zona sul do Rio).
Para dezenas de moradores, tão
importantes quanto documentos,
até mesmo os referentes ao prédio
que ruiu, são fotografias, cartas,
brinquedos -os registros da memória afetiva de quem deixou tudo para trás ao fugir da queda iminente do edifício.
Por coincidência, o primeiro documento a ser encontrado no sábado à tarde, quando começaram
a ser removidos os escombros da
parte do Palace 2 que despencou
na madrugada do domingo retrasado, foi uma cópia do diploma do
médico Milton Martins.
Menos de 12 horas depois, o corpo de Martins era resgatado ao lado dos cadáveres da mulher e da
filha, já em decomposição.
Dono de uma empresa de informática, Guilherme Lopes perdeu
mais de R$ 30 mil em softwares
(programas) ao sair correndo do
seu apartamento.
Se lhe dessem a oportunidade,
sabe o que optaria por salvar:
"Uma foto que tirei de Edna, minha mulher, na varanda do prédio", disse, emocionado.
A estudante Roberta Barros sobreviveu porque pulou do primeiro andar com o marido, que fraturou o tornozelo. "Minha vida se
divide em antes e depois. No dia
em que eu esquecer alguma coisa,
sem as fotos, elas se apagarão",
disse Roberta, enquanto procurava pertences de vizinhos.
Ontem, os moradores só garimparam -o verbo é empregado por
eles- o que estava mais exposto.
A partir de hoje, a empresa que
implodiu o prédio coordenará o
trabalho, observada por dois oficiais de Justiça.
Com medo de saques, os moradores montaram guardas que se
revezam durante todo o dia.
Tudo será devolvido às vítimas
-até fotografias íntimas, muito
íntimas, como algumas encontradas ontem. Entre rasgá-las ou jogá-las no lixo, decidiram: vão entregá-las aos legítimos donos.
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