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São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

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URBANIDADE

Modelo de beleza

Ed Viggiani - 30.jan.2001/Folha Imagem
A publicitária Mara Grabrilli, que tenta melhorar o tratamento de portadores de deficiência física


GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

A ousadia da publicitária Mara Grabrilli tornou-se visível quando decidiu posar nua para a revista "Trip" -um gesto pouco original se ela não fosse tetraplégica numa época em que se reverencia o padrão de beleza das anoréxicas modelos, transformadas em ídolos populares.
Ela está agora levando a ousadia para dentro das academias esportivas, templos da estética, com a paisagem repleta de gente jovem e malhada. Escolheu uma das mais badaladas academias da cidade -a Fórmula- e convenceu sua direção a adaptá-la aos portadores de deficiência. Isso está implicando tanto a remodelação espacial como o treinamento de pessoal.
A idéia de Mara é tirar os portadores de deficiência de guetos fisioterapêuticos, muitas vezes sombrios porque cuidam apenas de doentes. "Não acredito que a reabilitação deva ser feita em lugares separados ou em hospitais. Todos devem se divertir e se integrar normalmente", defende Mara, vítima de um acidente em 1994, quando se viu obrigada a interromper sua vida profissional.
Naquele ano, ela estava em plena ascensão profissional e, por pelo menos um ano, ficou presa numa cama. Sempre orgulhosa de sua independência, viu-se dependendo dos outros para executar as tarefas mais simples como comer. Em vez de se entregar, preferiu reagir. Passava o dia lendo pesquisas, espalhadas no mundo, sobre lesão medular, enquanto tomava conhecimento de experiências para integrar portadores de deficiência. Surgiu assim o projeto Primeiro Passo, logo apoiado por publicitários; a W/Brasil, agência de Washington Olivetto, assumiu a campanha.
Acabou aprendendo, no entusiasmo da luta, que é possível suplantar a limitação física -pelo menos dentro da cabeça, não se prendendo na cama, na cadeira de rodas, nos "guetos". Isso significou, para ela, assumir sua própria beleza. Nem que, para isso, tivesse de posar nua. "Já recebi cartas de mulheres tetraplégicas que, por causa das minhas fotos, resolveram se vestir melhor."

E-mail - gdimen@uol.com.br


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