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Para médicos, acesso deve ser garantido
DA REPORTAGEM LOCAL
Especialistas apóiam a nova política do Ministério da Saúde para
o câncer da mama, mas alertam
que o governo deve garantir o
acesso aos cuidados preventivos.
"Vamos precisar de equipamento, médicos e pessoal técnico", afirma Mário Mourão Netto,
diretor do departamento de mama do Hospital do Câncer, sobre
a proposta de valorização da mamografia que será apresentada
pela pasta. O auto-exame das mamas é importante, mas só a mamografia pode detectar lesões
muito pequenas, afirma.
Mourão estima que 50 milhões
de brasileiras com mais de 40
anos precisem da mamografia
anual. "O importante é garantir o
acesso", diz.
O médico elogiou a criação de
uma política para a doença. "Hoje
em até 80% dos casos a detecção é
tardia. O câncer da mama é um
problema de saúde pública. Mas a
mulher sempre esteve relegada ao
segundo plano."
Apesar de concordar com o Ministério da Saúde no que diz respeito à baixa eficácia do auto-exame na diminuição da mortalidade, o ginecologista Geraldo Rodrigues de Lima, professor titular
da Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo), contrapõe a intenção do ministério à realidade do
sistema de saúde no país.
"Concordo que toda mulher deveria fazer mamografia. O problema é que, no Brasil, não temos
aparelhos suficientes para fazer o
rastreamento do câncer da mama. A gente enfatiza a importância do auto-exame porque é melhor descobrir o tumor com 1 cm
do que não localizar nunca."
Essa é a mesma opinião do ginecologista e obstetra José Nisenbaum. "Claro que a mamografia é
um exame melhor. O problema é
que não está ao alcance de todos.
Conseguir uma mamografia demora muito. Já o auto-exame pode ser feito por todas."
José Ricardo Conte, secretário-geral da Sociedade Brasileira de
Mastologia, endossa a opinião. "A
mulher que não tem acesso à mamografia só vai ter chance de descobrir o tumor com o auto-exame. Assim, ela poderá fazer uma
cirurgia da mama menos mutilante. Em hipótese alguma o exame [de toque] deve ser desestimulado", afirma.
Na opinião de Conte, ninguém
conhece melhor a sua mama do
que a própria mulher. "Se ela for
estimulada desde cedo a fazer o
auto-exame, vai perceber diferenças na mama", diz. Domingos
Petti, membro da Sociedade
Americana de Doenças da Mama,
lembra que o auto-exame também estimula a mulher a buscar
outros possíveis sinais de doenças, como manchas que podem
indicar o câncer da pele.
Porém, para Marcelo Zugaib,
chefe do departamento de obstetrícia e ginecologia da Faculdade
de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), o estímulo ao
auto-exame chegava a gerar problemas para as mulheres. "Na
prática, é um desastre. As mulheres começam a entrar em pânico
com qualquer coisinha."
Segundo ele, as mulheres que
têm displasia mamária (cerca de
60% da população feminina adulta) costumam ter nódulos benignos nos seios, e o auto-exame as
deixava apavoradas. Mais útil, segundo ele, é estimular as mulheres a irem a cada seis meses ao ginecologista, para que ele faça o
exame manual da mama.
Mas Zugaib também ressaltou
que o governo deve se preparar
para tornar a mamografia mais
acessível à população.
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