São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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Para médicos, acesso deve ser garantido

DA REPORTAGEM LOCAL

Especialistas apóiam a nova política do Ministério da Saúde para o câncer da mama, mas alertam que o governo deve garantir o acesso aos cuidados preventivos.
"Vamos precisar de equipamento, médicos e pessoal técnico", afirma Mário Mourão Netto, diretor do departamento de mama do Hospital do Câncer, sobre a proposta de valorização da mamografia que será apresentada pela pasta. O auto-exame das mamas é importante, mas só a mamografia pode detectar lesões muito pequenas, afirma.
Mourão estima que 50 milhões de brasileiras com mais de 40 anos precisem da mamografia anual. "O importante é garantir o acesso", diz.
O médico elogiou a criação de uma política para a doença. "Hoje em até 80% dos casos a detecção é tardia. O câncer da mama é um problema de saúde pública. Mas a mulher sempre esteve relegada ao segundo plano."
Apesar de concordar com o Ministério da Saúde no que diz respeito à baixa eficácia do auto-exame na diminuição da mortalidade, o ginecologista Geraldo Rodrigues de Lima, professor titular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), contrapõe a intenção do ministério à realidade do sistema de saúde no país.
"Concordo que toda mulher deveria fazer mamografia. O problema é que, no Brasil, não temos aparelhos suficientes para fazer o rastreamento do câncer da mama. A gente enfatiza a importância do auto-exame porque é melhor descobrir o tumor com 1 cm do que não localizar nunca."
Essa é a mesma opinião do ginecologista e obstetra José Nisenbaum. "Claro que a mamografia é um exame melhor. O problema é que não está ao alcance de todos. Conseguir uma mamografia demora muito. Já o auto-exame pode ser feito por todas."
José Ricardo Conte, secretário-geral da Sociedade Brasileira de Mastologia, endossa a opinião. "A mulher que não tem acesso à mamografia só vai ter chance de descobrir o tumor com o auto-exame. Assim, ela poderá fazer uma cirurgia da mama menos mutilante. Em hipótese alguma o exame [de toque] deve ser desestimulado", afirma.
Na opinião de Conte, ninguém conhece melhor a sua mama do que a própria mulher. "Se ela for estimulada desde cedo a fazer o auto-exame, vai perceber diferenças na mama", diz. Domingos Petti, membro da Sociedade Americana de Doenças da Mama, lembra que o auto-exame também estimula a mulher a buscar outros possíveis sinais de doenças, como manchas que podem indicar o câncer da pele.
Porém, para Marcelo Zugaib, chefe do departamento de obstetrícia e ginecologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), o estímulo ao auto-exame chegava a gerar problemas para as mulheres. "Na prática, é um desastre. As mulheres começam a entrar em pânico com qualquer coisinha."
Segundo ele, as mulheres que têm displasia mamária (cerca de 60% da população feminina adulta) costumam ter nódulos benignos nos seios, e o auto-exame as deixava apavoradas. Mais útil, segundo ele, é estimular as mulheres a irem a cada seis meses ao ginecologista, para que ele faça o exame manual da mama.
Mas Zugaib também ressaltou que o governo deve se preparar para tornar a mamografia mais acessível à população.


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