São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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BARBARA GANCIA

Cão salsicha ou dogue alemão?

Francamente, não dá para entender o que o subprocurador José Roberto Santoro fez de tão grave. E daí se ele não contou ao chefe que tinha interrogado o bicheiro? Por acaso o nobre leitor informa seus superiores a respeito de cada passo que dá?
Sobre a mesa de um meu antigo editor, queridíssimo, havia uma placa que dizia: "Não me traga problemas, traga-me soluções". Já pensou se eu fosse apresentar a esse tipo de chefe os nomes de todos os meus entrevistados?
A turma fala o que quer e torce para que cole. Apesar da existência de quilos de documentos provando que Paulo Maluf movimentava dinheiro sem origem comprovada no exterior, o ex-prefeito continua insistindo que nunca teve conta bancária fora do país. Tecnicamente, pode até estar sendo sincero. Mas não ser o titular de uma conta em paraíso fiscal significa a mesma coisa que não movimentar dinheiro no exterior? Qualquer um que possua uma conta conjunta sabe que a resposta é não.
O mesmo se aplica às frases pinçadas na gravação entre o contraventor Carlos Cachoeira e o subprocurador Santoro. Só porque Santoro afirma que poderia vir a ser acusado de tentar derrubar o governo, será que isso quer dizer que ele agia com a intenção de defenestrar Lula? Óbvio que não.
Dar à gravação com o subprocurador o mesmo peso que tem a fita com Waldomiro é como imaginar que meu cão salsicha, Pacheco Pafúncio, seja do mesmo tamanho de um dogue alemão.
Deve vir mais por aí. Se Santoro diz na conversa com Cachoeira que "essa aí [referindo-se à gravação] vai estourar" é porque existem outras. E quem prestou atenção percebeu também que Santoro intuía estar sendo grampeado. A certa altura, mesmo falando diretamente com Cachoeira, ele solta um "Ouviram?" com toda a clareza.

 

Em depoimento perante a comissão que investiga os atentados de 11 de setembro, William Cohen, secretário de Defesa de Clinton, disse que, mesmo sabendo da localização dos quartéis da Al Qaeda, os EUA não revidaram os atentados às suas embaixadas na África, em 1998, por um motivo exótico. Diz ele que Clinton temia que o revide fosse mal interpretado. Na época, o escândalo Monica Lewinsky estava no auge e, para complicar, nos cinemas, o filme da hora era "Mera Coincidência" ("Wag the Dog"), de Barry Levinson, que fala de um conflito inventado com a Albânia só para desviar a atenção do "affair" do presidente com uma menor.

QUALQUER NOTA

Sai, pobreza!
Quem disse que, de tão desabonada, Sampa não fervilha mais? Na quarta-feira, só no Conjunto Nacional, contei dois lançamentos de livros e a abertura de quatro exposições de fotografia. Se alguém comprou livro ou foto já é outro departamento.

Estrabismo
Engana-se quem pensa que Márcio Thomaz Bastos, com suas teorias conspiratórias, leva o Prêmio Boquirroto da semana. O troféu é de Dernal Santos, presidente da CET, que disse ao "SPTV" que, se a instalação de radares fosse prejudicar a reeleição de Marta, ela certamente não teria encomendado licitação.

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