São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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Dirigente admite baixa qualidade de exames clínicos

DA REPORTAGEM LOCAL

Após a polícia fechar dois laboratórios acusados de fraudas exames, o presidente da Associação de Laboratórios Clínicos, Luiz Roberto Del Porto, 38, afirma que a qualidade de exames feitos por esses serviços está caindo por causa dos baixos valores pagos pelos procedimentos.
"O pessoal começa a utilizar produtos nacionalizados. Conforme o fabricante, o reagente começa a ser diluído a fim de que renda mais", disse ontem. "Como hoje os testes de laboratórios se baseiam em pesquisas de anticorpos, antígenos, se você tem reagentes diluídos, com pouca sensibilidade, você não consegue identificar a doença. É muito sério."
Porto já fizera o alerta durante a CPI dos Planos de Saúde, em setembro do ano passado.
Os laboratórios Bayern e SNA Centro de Diagnósticos, de São Paulo, são suspeitos de terem fraudado resultados de exames. Segundo a polícia, eles não realizavam a análise do material coletado e mesmo assim emitiam relatórios atestando a boa saúde dos pacientes. Ambos eram credenciados da operadora de planos de saúde Itálica.
Para Del Porto, que afirma desconhecer os serviços, a situação pode ser efeito do "estrangulamento" da rede em razão dos baixos valores pagos pelas operadoras dos planos de saúde.
De acordo com o dirigente, não foram concedidos reajustes nos últimos dez anos. Para um hemograma, que custa R$ 6, algumas operadoras pagam R$ 5.
A associação reúne em especial laboratórios do Estado de São Paulo, onde estão 60% desses serviços -são 12 mil no país. Segundo Del Porto, sofrem mais os pequenos laboratórios, que são 90% do total. "Com raras exceções, todo mundo fechou no vermelho."
O dirigente diz que correm negociações com as operadoras para reajustes, até agora sem efeito. A entidade também oficiou a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que, no entanto, não tem poderes para determinar reajustes de valores.
A Abramge, entidade que reúne as operadoras de planos, não quis comentar o assunto. A ANS informou ontem que a operadora de saúde Itálica se comprometeu a refazer todos os exames.
O setor de fiscalização da ANS deu um prazo de três dias para que a Itálica apresente documentos comprovando que os dois laboratórios são apenas credenciados, como alega a empresa de planos. (FABIANE LEITE E AMARÍLIS LAGE)


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