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DANUZA LEÃO
A próxima vítima
Nunca vou esquecer do dia,
pouco antes do segundo turno das eleições de 2002, em que
fui ao Canecão, no Rio, onde haveria um encontro do candidato
do PT com a classe artística (eu
não sou artista, mas fui). Saímos,
eu e todos que estavam lá, emocionados. Quanta simpatia,
quanta esperança num Brasil
melhor, mais solidário, mais fraterno. Tenho amigas que até outro dia ainda se lamentavam de
não ter estado lá. Lula estava nos
seus grandes dias (não percebi, no
momento, que devia ser porque
estava entre artistas famosos,
gente que ele adora); e deu um
show de bola. Mas agora, quando
se vê, a cada dia que passa, que
era tudo falsidade, mentira, a
gente fica mal.
Um professor Luizinho até que
se absorve fácil -afinal, num
olhar se presume do que é capaz.
José Dirceu nunca inspirou muita
confiança, e havia os sub sub
coadjuvantes, dos quais não
lembramos nem do nome nem
da cara.
Gushiken passava aquele clima
de oriental, zen, que, não sei bem
por que, sempre inspira respeito, e
Palocci era a imagem do que havia de sério; todos podiam errar
-e erravam-, mas, enquanto
existisse Palocci, estávamos todos
salvos, certos de que ele não deixaria que nada de grave acontecesse. A serenidade, a calma, a
placidez de Palocci, no meio de
tanta gente histérica, nos dava segurança. Mas ele mentiu, e várias
vezes. Mentiu até o último minuto, até saber que o presidente da
Caixa Econômica havia confirmado, na Polícia Federal, ter entregue o extrato do caseiro em
suas mãos, para então resolver
"se afastar".
Quando é que vamos aprender
que simpatia, facilidade de improvisar belos discursos, carisma,
sorrisos com covinhas ou cara de
seriedade não têm nada a ver,
nem para governar um país nem
para nada?
Bem dizia Brizola, como já contei um dia nesta coluna: "esse governo vai ser pior que uma ditadura stalinista". O que tentaram
fazer com o pobre do caseiro ultrapassa qualquer ******** -ah,
se eu pudesse escrever a palavra- que se possa fazer a um ser
humano, e quando ele é pobre e
humilde, a coisa fica muito mais
grave.
Eu vou votar. Gosto de votar,
para mim é a melhor coisa da vida. Mas vou tomar mais cuidado
do que nunca na escolha dos
meus candidatos. Vou prestar
muito mais atenção nas palavras
do que na simpatia, vou prestar
atenção nos olhos de cada um deles. Vai dar um certo trabalho,
mas espero que a imprensa ajude
botando a fotinho deles e falando
um pouco do que fizeram no passado, como se comportaram, se
roubaram, se mataram, se foram
processados, já que a Justiça Eleitoral não exige a folha corrida de
qualquer candidato a qualquer
coisa, como uma empresa exige
para admitir um contínuo. Não,
não e não ao voto nulo.
Regina Duarte, quando disse
que tinha medo de Lula, atirou
no que viu e acertou no que não
viu; o medo dela era outro, e ninguém poderia imaginar que fosse
dar no que deu. Só para lembrar:
já não está na hora de ir fundo e
saber quem matou Celso Daniel?
O assunto vai e volta, mais vai do
que volta, pessoas envolvidas no
caso foram assassinadas, e nada.
Por que será?
E me vem à cabeça o hino criado por Duda Mendonça -outro
que achincalhou a CPI dizendo
"lamento, mas não vou responder", até mesmo quando perguntaram o nome de sua mulher;
quem votou em Lula deve ter cantado, balançando a cabeça, "Agora é Lula, agora é Lu-lu-la-lá"
-lembra?
Talvez seja a hora do hino voltar a ser cantado, só que não mais
pelos eleitores do PT, mas pela
oposição, enquanto se pensa: será
que agora é Lula? Não, Lula não:
ele nunca soube de nada.
Mas quem não gostar de política pode cantar os versos de Tom
Jobim, "é a lama, é a lama".
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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