São Paulo, domingo, 02 de abril de 2006

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SABEDORIA TIBETANA

Em sua terceira visita ao país, ele irá discursar sobre saúde e debater com pesquisadores da Unifesp

Dalai Lama traz turnê budista a São Paulo

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela terceira vez, o "Oceano de Sabedoria" inundará o Brasil. O título grandioso é a tradução para o português das palavras mongol e tibetana "Dalai Lama", com que se identifica a mais famosa autoridade do budismo, reverenciada como a reencarnação do próprio Buda da Compaixão. Desta vez, o Oceano se derramará em palestras em São Paulo -nas visitas anteriores, em 1992 e 1999, ele passou pelo Rio, Curitiba, Brasília e, de novo, São Paulo.
Embora a agenda de compromissos brasileiros só comece no dia 27 de abril, quando falará no templo Zu Lai, que fica em Cotia, na Grande São Paulo, quem quiser ver o Dalai Lama tem de correr. Com capacidade para acolher 3.000 pessoas, todos os convites para o Zu Lai já foram vendidos (ingressos a R$ 120 e R$ 70, incluindo o lanche vegetariano).
No Palácio das Convenções do Anhembi, onde o Dalai Lama falará sobre saúde e espiritualidade e discutirá com pesquisadores da Unifesp, todos os 2.519 ingressos do grande auditório esgotaram-se (a R$ 120 cada). Restam apenas convites para assistir ao seminário em telões instalados em outros auditórios do Anhembi -a um custo de R$ 70 por cabeça.
Na programação prevê-se ainda uma palestra de duas horas no ginásio do Ibirapuera, com capacidade para 8.000 pagantes (R$ 20 cada um) e uma celebração inter-religiosa na catedral da Sé, aberta ao público e grátis.
O preço do ingresso, do tamanho de show de pop star, não constrange Lia Diskin, da Associação Palas Athena, organizadora da programação do Dalai Lama no Brasil. "Os preços visam apenas a cobrir os custos dos eventos, entre passagens aéreas para a comitiva, segurança, aluguel dos telões, divulgação e logística." Diferentemente dos shows de rock, que cobram ingressos, vendem direitos de transmissão para a TV, e patrocínio, com o Dalai Lama só haverá cobrança de ingresso -e mesmo assim em parte das atividades. "Não poderíamos nem cogitar associar o nome do Dalai Lama a um patrocinador", diz Lia.

Santo sob medida
Nascido Tenzin Gyatso há 70 anos no Tibete, país encravado na cordilheira do Himalaia, a mais de 4.000 metros de altitude, o Dalai Lama teve de se exilar a partir de 1959 em Dharamsala, Índia, depois da invasão chinesa. Em 1989, ganhou o Nobel da Paz, "por sua campanha pacifista pela autonomia do Tibete". Foi biografado por Hollywood em "Kundun" (1997), de Martin Scorsese, e em "Sete Anos no Tibete" (1997), com Brad Pitt.
Na base desse sucesso está uma fé sob medida para desencantados politicamente corretos:
1. É uma religião não-teísta (não acredita em uma ou várias divindades determinando o destino do homem); 2. defende o respeito a todos os seres capazes de sentir (daí o vegetarianismo e a simpatia dos ecologistas); 3. tem como objetivo a felicidade e a cultua ("a felicidade é o resultado de uma mente iluminada, enquanto o sofrimento é causado por uma mente distorcida"); 4. opõe-se a ortodoxias; 5. lembra todo o tempo que tudo é impermanente -inclusive essa lembrança.
Numa de suas palestras em Curitiba, no ano de 1999, o Dalai Lama defendeu, para surpresa de muitos ouvintes, que em vez de se converterem ao budismo, deveriam buscar suas próprias tradições religiosas. "Em todas as religiões há transcendência. Todas têm essencialmente a mesma mensagem, cujo objetivo é tornar seus praticantes melhores, mais pacíficos, generosos, compreensivos e sábios", disse o Dalai Lama.
Apesar dessa fala, que parece dissuasiva, o budismo vem crescendo no Brasil. Autodeclarados, já são mais de 200 mil praticantes, a maioria ocidentais. O templo Zu Lai, construção de 10 mil m2 inaugurada há dois anos, recebe todo mês 12 mil pessoas, em geral curiosos sobre a religião. Se tivesse sido construído só para abrigar os cinco monges e três noviços que tem hoje, o Zu Lai poderia ser uma casinha.
"Estamos preparados para crescer. Temos muito a contribuir com o Brasil", diz com forte sotaque chinês a monja Sinceridade, 46, taiwanesa, cabelos raspados, hábito marrom, sorriso no rosto -como convém a um ser feliz.


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