|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SABEDORIA TIBETANA
Em sua terceira visita ao país, ele irá discursar sobre saúde e debater com pesquisadores da Unifesp
Dalai Lama traz turnê budista a São Paulo
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela terceira vez, o "Oceano de
Sabedoria" inundará o Brasil. O
título grandioso é a tradução para
o português das palavras mongol
e tibetana "Dalai Lama", com que
se identifica a mais famosa autoridade do budismo, reverenciada
como a reencarnação do próprio
Buda da Compaixão. Desta vez, o
Oceano se derramará em palestras em São Paulo -nas visitas
anteriores, em 1992 e 1999, ele
passou pelo Rio, Curitiba, Brasília
e, de novo, São Paulo.
Embora a agenda de compromissos brasileiros só comece no
dia 27 de abril, quando falará no
templo Zu Lai, que fica em Cotia,
na Grande São Paulo, quem quiser ver o Dalai Lama tem de correr. Com capacidade para acolher
3.000 pessoas, todos os convites
para o Zu Lai já foram vendidos
(ingressos a R$ 120 e R$ 70, incluindo o lanche vegetariano).
No Palácio das Convenções do
Anhembi, onde o Dalai Lama falará sobre saúde e espiritualidade
e discutirá com pesquisadores da
Unifesp, todos os 2.519 ingressos
do grande auditório esgotaram-se
(a R$ 120 cada). Restam apenas
convites para assistir ao seminário em telões instalados em outros
auditórios do Anhembi -a um
custo de R$ 70 por cabeça.
Na programação prevê-se ainda
uma palestra de duas horas no ginásio do Ibirapuera, com capacidade para 8.000 pagantes (R$ 20
cada um) e uma celebração inter-religiosa na catedral da Sé, aberta
ao público e grátis.
O preço do ingresso, do tamanho de show de pop star, não
constrange Lia Diskin, da Associação Palas Athena, organizadora da programação do Dalai Lama
no Brasil. "Os preços visam apenas a cobrir os custos dos eventos,
entre passagens aéreas para a comitiva, segurança, aluguel dos telões, divulgação e logística." Diferentemente dos shows de rock,
que cobram ingressos, vendem
direitos de transmissão para a TV,
e patrocínio, com o Dalai Lama só
haverá cobrança de ingresso -e
mesmo assim em parte das atividades. "Não poderíamos nem cogitar associar o nome do Dalai Lama a um patrocinador", diz Lia.
Santo sob medida
Nascido Tenzin Gyatso há 70
anos no Tibete, país encravado na
cordilheira do Himalaia, a mais
de 4.000 metros de altitude, o Dalai Lama teve de se exilar a partir
de 1959 em Dharamsala, Índia,
depois da invasão chinesa. Em
1989, ganhou o Nobel da Paz, "por
sua campanha pacifista pela autonomia do Tibete". Foi biografado
por Hollywood em "Kundun"
(1997), de Martin Scorsese, e em
"Sete Anos no Tibete" (1997),
com Brad Pitt.
Na base desse sucesso está uma
fé sob medida para desencantados politicamente corretos:
1. É uma religião não-teísta (não
acredita em uma ou várias divindades determinando o destino do
homem); 2. defende o respeito a
todos os seres capazes de sentir
(daí o vegetarianismo e a simpatia
dos ecologistas); 3. tem como objetivo a felicidade e a cultua ("a felicidade é o resultado de uma
mente iluminada, enquanto o sofrimento é causado por uma mente distorcida"); 4. opõe-se a ortodoxias; 5. lembra todo o tempo
que tudo é impermanente -inclusive essa lembrança.
Numa de suas palestras em Curitiba, no ano de 1999, o Dalai Lama defendeu, para surpresa de
muitos ouvintes, que em vez de se
converterem ao budismo, deveriam buscar suas próprias tradições religiosas. "Em todas as religiões há transcendência. Todas
têm essencialmente a mesma
mensagem, cujo objetivo é tornar
seus praticantes melhores, mais
pacíficos, generosos, compreensivos e sábios", disse o Dalai Lama.
Apesar dessa fala, que parece
dissuasiva, o budismo vem crescendo no Brasil. Autodeclarados,
já são mais de 200 mil praticantes,
a maioria ocidentais. O templo Zu
Lai, construção de 10 mil m2 inaugurada há dois anos, recebe todo
mês 12 mil pessoas, em geral curiosos sobre a religião. Se tivesse
sido construído só para abrigar os
cinco monges e três noviços que
tem hoje, o Zu Lai poderia ser
uma casinha.
"Estamos preparados para crescer. Temos muito a contribuir
com o Brasil", diz com forte sotaque chinês a monja Sinceridade,
46, taiwanesa, cabelos raspados,
hábito marrom, sorriso no rosto
-como convém a um ser feliz.
Leia mais em www.folha.com.br/060891
Texto Anterior: Saiba mais: Chacina de 111 inspirou filme nacional de sucesso Próximo Texto: Meditação do Tibete é estudada pela ciência Índice
|