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PAGANDO O PATO
A insegurança é humana, mas corujas, gatos, joaninhas, borboletas e grilos é que levam a culpa
DEBORAH GIANNINI
DA REVISTA DA FOLHA
O vôo rasante e assustador de
uma coruja em sua direção se dá
porque alguma desgraça está para
acontecer ou porque, coincidentemente, você está próximo à presa que ela procura? (Ou seja, não
bastasse a ave agourenta, pode
haver também um rato ao seu redor.) Se perfilar no grupo dos que
acreditam na segunda opção, você provavelmente vai olhar para
os lados, para ver onde está o alvo
apropriado. Assinalar a primeira
significa que você reza no credo
dos que encaram a coruja -ou
qualquer outro sinal de mau
agouro- como "sinal" de alguma coisa.
Para a filosofia, aplicar a lógica
humana à natureza ou atribuir
qualidades humanas aos bichos
-como a do dom da previdência
à coruja- ganha o nome de animismo.
Corujas, gatos, borboletas, joaninhas e grilos estão entre os "tótens" mais populares; aos três primeiros, de hábitos noturnos, se
atribuem maus agouros; aos restantes, diurnos e "alegres", sorte.
Na dança do imaginário humano, as características biológicas
do animal são usadas para definir
o tipo de "poder sobrenatural"
que ele irá exercer -que tanto
pode ser positivo como negativo,
ao sabor da cultura.
Seus "poderes", para o mal ou
para o bem, são um reflexo da fragilidade humana: na tentativa de
controlar o imponderável ou apaziguar a insegurança, o homem
projeta nos animais seus medos e
desejos mais inconscientes e, a
partir de características puramente biológicas, . E isso vem desde a
Antiguidade (como você vai conferir nesta reportagem).
A história também mostra que
o misticismo tende a se acentuar
quando civilizações passam por
grandes dificuldades como guerras, epidemias e até, por que não,
escândalos políticos. Fragilizado,
o povo clama por um "sinal" superior. Bem que os bichos poderiam ter as respostas.
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