São Paulo, domingo, 02 de abril de 2006

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CORUJA

A bruxa da noite

Ganhou fama de ave agourenta, o que, considerando sua aparência, não é de estranhar. Acredita-se que ela anuncie desgraças e, quando sobrevoa a casa dos enfermos, a morte.
Para afastar o mau presságio, a crença popular recomenda fazer uma fogueira com pimenta e vinagre para que ela queime a língua. Caso ela emita seu som lúgubre, é necessário tirar toda a roupa, virá-la do avesso e colocá-la de novo.
O misticismo em torno da coruja vem desde a Antiguidade, mas, na época, esse pássaro estava relacionado a virtudes. Na Grécia antiga, era uma ave sagrada e representava a deusa Atena (a da coragem e sabedoria) e também o dom de clarividência dos adivinhos.
Fatores biológicos ajudaram a coruja a ganhar esses poderes, como a estrutura de suas penas, que permite um vôo silencioso, e a presença de discos faciais, que captam ruídos. Além dos ouvidos assimétricos (um focaliza sons que vêm de baixo, o outro, os de cima), que lhe permitem caçar suas presas de olhos fechados. Também é capaz de enxergar na escuridão e girar o pescoço até 270 graus.
Mas o mesmo perfil que promoveu sua boa imagem entre os gregos fez a coruja cair em desgraça em outras culturas.
Para os astecas, ela simbolizava o deus dos infernos, avatar da noite, da chuva e das tempestades; na cultura celta, era a bruxa da noite; para os indígenas norte-americanos, a divindade da morte, guardiã dos cemitérios. Na França, existia a crença de que, depois da morte, as solteironas se transformavam em corujas.
Uma espécie em particular, a Tyto alba, é a mais temida pelos místicos. Popularmente conhecida como "rasga-mortalha" e "coruja de igreja" (pelo hábito de construir seus ninhos nos vãos dos templos), tem um vôo baixo e pesado, e o barulho de suas asas lembra um pano sendo bruscamente rasgado (por isso, "rasga-mortalha"). Para os supersticiosos, ela está rasgando a mortalha para algum doente da vizinhança.


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