|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AVANÇO NA MATA
Polícia Ambiental flagra duas irregularidades por mês em empreendimentos construídos em área de serra
Condomínios de luxo invadem a Cantareira
FABIO SCHIVARTCHE
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A invasão da serra da Cantareira
por condomínios residenciais de
médio e de alto padrão tem agravado os impactos ambientais em
uma das principais áreas verdes
da cidade de São Paulo.
Centenas de novos moradores
são atraídos a cada ano por empreendimentos em busca de ar
puro, silêncio e segurança, por detrás de muradas fortificadas. Na
bagagem, trazem um progresso
que degrada o ambiente, ameaça
a rica biodiversidade da região e
piora a qualidade de vida de outros paulistanos.
Somente a Polícia Ambiental
tem flagrado duas irregularidades
por mês nesse tipo de condomínio. Mesmo os que estão regulares são motivo de preocupação
devido às brechas na legislação.
O residencial Village Palmas, da
Bancoop, é um dos alvos de contestações pelos impactos ambientais. A Secretaria do Verde e do
Meio Ambiente cita a "supressão
de vegetação, interferência em
APP (Área de Preservação Permanente), maus tratos na vegetação arbórea e inadequada preservação da vegetação", irregularidades encaminhadas à Promotoria.
A pasta diz ter firmado um termo de ajustamento de conduta
com os empreendedores, cujas
exigências ainda não foram "integralmente" atendidas.
Mas cerca de cem casas do Village Palmas já foram entregues -e
outras dezenas permanecem em
obras, "no meio do verde", como
exalta a sua propaganda.
O condomínio The House é outro alvo de reclamações ambientais. A placa publicitária anuncia:
"Um jeito único de viver". E já
atraiu 21 compradores, que pagaram entre R$ 469 mil e R$ 545 mil
por uma casa, ainda em construção, perto da mata da serra da
Cantareira, tombada pelo patrimônio histórico e parte do cinturão verde da reserva da biosfera.
A Polícia Ambiental já chegou a
multar os empreendedores em
R$ 6.745, no ano passado, pelo
corte de 46 árvores. Hoje ele está
regular e os acertos ambientais estão sendo cumpridos, segundo a
prefeitura. Mas os troncos despedaçados seguem no local.
Não muito longe dali outro condomínio sobe rapidamente: o Itatinga 2, em frente ao Itatinga 1,
que abriga há alguns anos cerca
de cem casas de alto padrão. Fica
tão próximo da floresta que moradores instalaram rede de proteção para que gambás e outros animais não entrem nas casas.
O Itatinga 1 foi motivo de reclamações pela construção de residências próximas a um córrego.
Baseado no código florestal, o Ministério Público cobrava uma distância mínima de 30 metros para
evitar poluição e interferência no
curso d'água. Os empreendedores
defendiam 15 metros, com base
numa lei mais antiga.
"Fizemos um acordo para que
eles ampliassem a distância para
30 metros onde fosse possível e
doassem área verde para a prefeitura", afirma Carlos Salles, que é
promotor do Meio Ambiente.
Uma comissão da Câmara Municipal começou uma investigação no mês passado. Listou mais
de 20 condomínios recém-inaugurados ou ainda em construção
nos entornos da Cantareira. E dezenas de imóveis velhos em grandes terrenos à venda -um prato
cheio para as imobiliárias que estão descobrindo essa região.
Preocupação
Para Fernando Délcio, administrador do Parque da Cantareira,
empreendimentos ilegais, que
não possuem alvará de construção da prefeitura ou licença do Estado para cortar mata nativa, e os
legalizados, que se aproveitam de
brechas na lei, são preocupantes.
A maior brecha é a falta de uma
regulamentação rígida para a chamada zona de transição entre a
mancha urbana e a área de preservação (leia texto nesta página).
"O Itatinga 1 é uma aberração.
Produz impacto direto na mata e
não cumpre a função de transição", afirma Juscelino Gadelha
(PSDB), vereador que preside a
comissão da Câmara.
O loteamento Parque Itaguaçu,
na Freguesia do Ó, beneficiou-se
da falta de rigor na ocupação dos
entornos da Cantareira. Numa
área equivalente a metade do parque Ibirapuera serão construídos
vários condomínios, alguns com
prédios de até cinco andares. A intenção é atrair 20 mil moradores.
Mesmo com licenças expedidas
pelo Estado, o Itaguaçu foi alvo de
blitz da polícia, que flagrou lenhadores com motosserras em área
protegida. "Não desmatamos de
forma generalizada, mas numa
área tão grande como essa é possível que tenha ocorrido alguma infração", admite Gilda Mendes, diretora do loteamento.
De um lado, aumenta a quantidade de condomínios que tentam
se regularizar. Em 2004, foram feitos 169 termos de averbação de
área verde no Departamento Estadual de Proteção dos Recursos
Naturais -quando os compromissos de preservação passam a
constar da matrícula do imóvel.
Em 2005, eles somaram 290.
De outro, a Polícia Ambiental
flagra cada vez mais irregularidades na região. Foram 18 autuações
em 2004 e 23 no ano passado.
Texto Anterior: Mecânica é terreno a ser desbravado Próximo Texto: Outro lado: Residenciais afirmam estar regularizados Índice
|