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São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2003

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POLUIÇÃO

Inquérito afirma que a Reduc abandonou rejeitos industriais e lama supostamente contaminada perto de manguezal

Polícia acusa Petrobras de crime ambiental

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Área da Refinaria Duque de Caxias, no Rio, que teria sofrido despejo de resíduos industriais e lama


SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Inquérito aberto na DPMA (Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente) da Polícia Civil acusa a Reduc (Refinaria Duque de Caxias), que pertence à Petrobras, de abandonar rejeitos industriais e depositar lama supostamente contaminada perto de manguezais da baía de Guanabara.
O inquérito indiciou pela suposta prática de crime ambiental dois dirigentes da refinaria, que emprega 2.800 trabalhadores e produz, em média, 239 mil barris diários de derivados de petróleo.
Os indiciados são o gerente-geral da Reduc, Kleiber Castilho, e o coordenador de Meio Ambiente, Carlos Antônio Machado Santos. Eles negam as acusações.
De acordo com o inquérito, cerca de 230 mil toneladas de lama foram despejadas pela Reduc em um terreno ladeado pelo manguezal e pelo rio Iguaçu, que deságua na baía. Não houve autorização dos órgãos ambientais do Estado para o despejo. Os mangues são áreas de preservação permanente e protegidos pela legislação ambiental.
O terreno fica dentro de área da refinaria, que soma 13 milhões de metros quadrados, no município de Duque de Caxias (Baixada Fluminense, na periferia do Rio).
Para o delegado-titular da DPMA, Marco Aurélio Castro, a lama é uma mistura da borra oleosa decorrente do refino com material dragado da baía e de um canal de água salgada que passa pela Reduc.
Castro indiciou os executivos da Reduc no artigo 54 da lei 9.605/98, que trata dos crimes ambientais. O artigo prevê pena de um ano a cinco anos de prisão, mais multa, para quem "causar poluição de qualquer natureza" que provoque danos à saúde humana, aos animais e à flora. O inquérito está sendo apreciado pelo Ministério Público do Estado.
No dia 31 de janeiro deste ano, a bordo de um helicóptero, uma equipe da DPMA sobrevoou a Reduc e filmou, além da área de 18 mil metros quadrados onde a lama foi colocada, cerca de cem tambores de metal abandonados em um terreno baldio próximo ao local do despejo.
Os policiais foram à refinaria e constataram que, dentro dos tambores, havia resíduos da produção de óleo, além de terra, lama e líquidos que não foram identificados. A vistoria contou com a participação da perícia do Icce (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), órgão da Polícia Civil, e de representantes da Feema (Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente).

Multa
Apesar de ter sido lavrado no local um auto de infração, até hoje a Secretaria Estadual de Meio Ambiente não estipulou o valor da multa a ser aplicada à Petrobras, a quem pertence a refinaria.
De acordo com a presidente da Feema, Isaura Fraga, o valor da multa está sendo analisado pelo setor jurídico da secretaria. "O auto de infração obriga a empresa a retirar os tambores e a limpar a área. Os tambores foram retirados", afirmou ela.
A Feema recebeu da Reduc um relatório em que a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) informa não haver encontrado vestígios de rejeitos industriais na lama.
Fraga informou que a lama será agora analisada nos laboratórios da Feema, para a verificação do que existe nela. "Mesmo que a quantidade de resíduos industriais seja pequena, temos que ver o que vai acontecer com o solo. Se não está adequado [o material despejado], não pode jogar no meio ambiente", disse ela.
A Feema pode determinar à Reduc que retire a lama da vizinhança dos manguezais da baía e do rio. O material terá, então, que ser levado, possivelmente, para um aterro industrial.


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