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SISTEMA PRISIONAL
Trinta presos foram mortos em motim, entre eles um acusado de furto; vários corpos estavam mutilados
Guerra de facções causa matança no Rio
MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma batalha entre presos das
facções criminosas Comando
Vermelho (CV) e Terceiro Comando (TC) provocou a morte de
pelo menos 30 detentos durante a
rebelião na Casa de Custódia de
Benfica (zona norte do Rio). No
motim, encerrado na segunda-feira após 61 horas, foi morto também um agente penitenciário.
A carnificina aconteceu quando
os rebelados, ligados ao CV, invadiram no sábado, armados com
escopetas e pistolas, o andar em
que ficam os presos do TC. Para se
defender, os detentos do TC incendiaram colchões e os atiraram
em direção às grades das celas.
O estado dos cadáveres assustou quem esteve na cadeia e nos
necrotérios para onde eles foram
levados. Havia cabeças e membros separados dos troncos. Muitos corpos estavam carbonizados.
Há pelo menos 16 feridos, vítimas
de tiros e queimaduras.
Furto e desacato
Uma lista parcial com os nomes
de 19 mortos foi divulgada ontem
à noite pela Secretaria de Administração Penitenciária. Em apenas nove casos foram identificados os crimes pelos quais eles estavam sendo processados. David
de Paula Pereira, 25, era acusado
de dano, desacato e resistência à
prisão. Leonardo dos Santos Oliveira, 24, de furto. Quatro dos
mortos eram acusados de roubo,
dois de tráfico e um de homicídio.
No sistema penitenciário do
Rio, a divisão por facções criminosas normalmente se dá de acordo com o grupo que atua no bairro de origem do preso.
Na Casa de Custódia de Benfica,
o TC estava em minoria. Tinha
150 homens confinados no terceiro dos quatro andares do prédio.
O CV, que ocupava o último pavimento, tinha cerca de 600. Quase
110 presos ligados à facção ADA
(Amigo dos Amigos) estavam no
segundo andar.
A decisão de misturar presos de
facções rivais começou a ser implementada pelo Estado em 2003.
Na época o secretário estadual de
Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, disse que
o objetivo era mostrar que o presídio é controlado pelo governo,
não pelos criminosos. Defensores
públicos e especialistas criticam a
medida e já vinham alertando para os riscos de uma matança.
Cabeças e braços
O Estado informou, em nota,
que foram 30 os mortos, mas, por
causa das mutilações, o número
pode ser maior. Os corpos foram
distribuídos por quatro IMLs
(Instituto Médico Legal).
O IML no centro da capital recebeu 14 corpos, duas cabeças e dois
braços. Para o IML de Nova Iguaçu, foram levados seis corpos,
sendo um sem a cabeça. Quatro
cadáveres estão no IML de Duque
de Caxias e seis em Tribobó.
Pelas investigações iniciais, o
plano dos presos do CV era fugir.
A fuga em massa ocorreria ao
amanhecer de sábado. Com o
apoio de criminosos fora da prisão, eles tentariam alcançar a rua
após a explosão de um portão.
A explosão não derrubou o portão. Segundo o governo, só 14 fugiram. Quatro teriam sido recapturados. Os demais voltaram para
a cadeia, dominaram os carcereiros e acharam as chaves do prédio. Iniciaram, a seguir, a rebelião.
Segundo Paulo Ferreira, presidente do Sindicato dos Servidores
da Secretaria Estadual de Justiça
-ao qual os agentes são vinculados-, um dos mortos é Maílson
Souza da Costa, irmão do traficante Romildo Souza da Costa, o
Miltinho do Dendê. Ainda segundo Ferreira, o preso foi decapitado. Os assassinos jogaram futebol
com a cabeça da vítima, disse ele.
O agente Antônio Carlos dos
Anjos, que entrou na casa de custódia ontem, disse que a unidade
foi depredada e pichada com a sigla CV. O terceiro andar está parcialmente queimado. Foram destruídas as salas dos médicos, a administração, celas e toda a documentação dos presos.
Segundo o presidente da ONG
Conselho da Comunidade, Marcelo Freixo, que conversou com
feridos antes da transferência para o hospital, eles estavam "apavorados com a barbárie". "Estavam sem comer e sem beber desde sábado. Eles ouviam os tiros,
os gritos de outros presos sendo
mortos e temiam por suas vidas."
Freixo esteve na casa de custódia no dia 11. "Não fomos revistados, não havia detector de metal e
não havia ainda chefe ou subchefe
de segurança nomeados."
Os 130 guardas da casa de custódia não são agentes da ativa, mas
membros de uma cooperativa
formada por PMs, bombeiros e
agentes aposentados.
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