São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2004

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SISTEMA PRISIONAL

Secretário teme uso de imagens nas eleições; governo alega que objetivo era evitar espetacularização da tragédia

Garotinho veta acesso à carnificina no Rio

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-governador e secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho (PMDB), foi o responsável pelo veto à entrada de defensores públicos e de integrantes de entidades de direitos humanos na Casa de Custódia de Benfica após o fim do motim que resultou na morte de ao menos 30 presos e de um agente penitenciário.
Em protesto, 41 defensores públicos do Núcleo de Direitos Humanos e Sistema Penitenciário decidiram suspender por nove dias as visitas aos presídios, numa "paralisação de advertência". Vão encaminhar à Justiça uma representação para que seja apurada a responsabilidade pela decisão de proibir sua entrada na prisão.
A maior preocupação de Garotinho era com o vazamento de imagens de corpos mutilados que pudessem lembrar o massacre da extinta Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo, onde morreram 111 presos em confronto com a polícia, em 1992.
A Folha apurou que Garotinho considerava que o vazamento dessas imagens poderia ser desastroso para seu grupo político em ano eleitoral. Segundo um de seus assessores, a medida foi tomada para impedir que entidades de direitos humanos fizessem um "espetáculo" em torno da tragédia.
O governo do Estado subestimou o alcance do motim, que começou na manhã de sábado com uma tentativa de fuga em massa. No sábado, apenas o subsecretário de Direitos Humanos, Paulo Bahia, falava sobre o caso, embora no local estivessem o subsecretário de Segurança, Marcelo Itagiba, o secretário operacional da secretaria, Paulo Souto, e o comandante do policiamento da capital, coronel Fernando Belo.
No domingo, a negociação passou para a Secretaria de Administração Penitenciária, mas, com o assassinato de um agente penitenciário, no mesmo dia, Garotinho interveio e assumiu o comando nos bastidores.
Oficialmente, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Renato Hottz, foi quem passou a responder pela negociação com os rebelados. As conversas não deram resultado até a tarde de segunda-feira, quando a equipe de negociadores foi trocada e o pastor Marcos Pereira da Silva foi levado ao presídio. Silva teria convencido os presos a negociar com o delegado Jader Amaral e os coronéis da PM Francisco D'Ambrosio e Roberto Penteado.
Os presos concordaram em entregar as armas e libertar os reféns no início da noite. Nesse momento, a PM entrou na carceragem, mas, a pedido de Garotinho, Hottz impediu a presença dos defensores públicos e das entidades de direitos humanos. O defensor Leonardo Rosa Melo da Cunha disse que Hottz estava "visivelmente constrangido".
A Constituição estadual garante o acesso de membros da Defensoria Pública a todos os estabelecimentos onde haja pessoas sob custódia do Estado.
Ontem, apenas o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, afastado do caso no domingo, falou com jornalistas. Garotinho e a governadora Rosinha Matheus (PMDB) não deram entrevistas.


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