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CRIME NO SHOPPING
Mateus Meira diz estar arrependido e que, antes de ação no Morumbi, entrou com bisturi em cinema de Salvador
Atirador já tinha cogitado ataque em 93
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-estudante de medicina
Mateus da Costa Meira, 29, disse
ter sofrido vários surtos de agressividade antes de 3 de novembro
de 1999, quando usou uma submetralhadora para matar três
pessoas em uma sessão de cinema
no MorumbiShopping (zona sul
de São Paulo). Os outros alvos teriam sido espectadores de um cinema em Salvador (BA), seu pai e
ele próprio.
Meira foi interrogado ontem à
tarde, no início da sessão de júri
popular em São Paulo em que é
acusado de três homicídios, quatro tentativas de homicídio e de
colocar em risco a vida de 15 pessoas -número de balas restantes
na arma. O julgamento deve durar até amanhã.
O ex-estudante afirmou, no seu
primeiro depoimento à Justiça
-no começo do processo judicial, ele se recusou a falar-, estar
arrependido do crime.
"Eu me arrependo. Hoje eu tenho a exata dimensão do que fiz e
me arrependo do ato que cometi.
Hoje tenho noção do sofrimento
das famílias [das vítimas] e da minha família", disse.
Mas ele afirmou não saber o
motivo de ter atirado contra as
pessoas no cinema nem se lembrar do momento dos tiros. "Dos
disparos, não estou lembrado. Está tudo muito nebuloso na minha
mente." Ele disse sofrer de delírios de perseguição desde a adolescência, mas afirmou que se recusava a se tratar.
Meira confirmou vários surtos
de agressividade relatados pela
juíza Maria Cecília Leone, do 1º
Tribunal do Júri. Em 1993, Meira
teria ido a uma sala de cinema em
Salvador, onde morava com a família, com um bisturi.
Ele não tinha sido incluído na
primeira lista de aprovados no
vestibular de medicina em São
Paulo -só entrou na segunda-
e, de acordo com a juíza, teria declarado na ocasião que "teve vontade de ferir ou matar".
"Por que o cinema?", questionou a juíza ontem. Meira não soube responder o motivo nem como
terminou o episódio, já que não
há registro de agressão.
"Eu me sentia perseguido, ouvia
vozes e sussurros. Começou na
adolescência. De certa forma,
queria me livrar dessas vozes",
afirmou o ex-estudante.
Meira também disse à juíza que,
em outra ocasião, deu um "murro" em seu pai -que teve três
costelas quebradas-, mas não
soube dizer o motivo. A declaração provocou agitação entre as
cerca de 150 pessoas que assistiam
ao julgamento, o que fez a juíza
ameaçar esvaziar o plenário.
Em outro caso, ocorrido em
1995, afirmou que usou um bisturi para cortar o próprio punho
durante discussão com o pai. Ele
não soube dizer a razão.
Meira também não soube informar porque, em uma visita à família em Salvador, trocou, segundo relato da juíza, as fechaduras
do apartamento para impedir que
parentes entrassem.
De calça social e camisa, algemado, calmo e dando respostas
curtas, Meira admitiu que passou
a consumir cocaína três meses antes do crime, mas que não havia
usado drogas no dia das mortes.
Laudo psiquiátrico feito por técnicos nomeados pela Justiça afirma que Meira tem tendência ao
isolamento e dificuldade de adaptação, mas que tem capacidade de
entendimento de delito. O documento considerou o ex-estudante
imputável (sujeito às punições do
Código Penal) e que, por isso, pode ir a júri.
"O réu tentou mostrar que não
tinha condições de saber o que estava fazendo, o que não é verdade.
O seu concatenamento de idéias
hoje mostrou que ele não é nenhum doente mental", afirmou o
promotor de Justiça Norton Geraldo Rodrigues da Silva.
A defesa de Meira diz que ele
não tinha condições de entender
o crime, pois estava sob tratamento psiquiátrico. Meira deixou uma
clínica 15 dias antes do crime. "Ele
não tinha nada a esconder. Contou a verdade até sob o risco de se
prejudicar, como ocorreu com o
caso da agressão ao pai que narrou", disse o advogado Antonio
Sérgio Reis.
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