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JUVENTUDE ENCARCERADA
Funcionários recontratados nos últimos 15 dias foram apontados por internos como agressores
Mais 9 da Febem são acusados de agressão
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Promotoria da Infância e Juventude identificou ontem mais
nove funcionários recontratados
pela Febem de São Paulo, nos últimos 15 dias, que são investigados
pelo Ministério Público e pela polícia por supostas agressões a adolescentes da instituição.
Essas readmissões contrariam o
projeto de reformulação da Febem, que se comprometeu a recontratar apenas agentes sem histórico de agressão a internos.
Ontem, a Folha publicou o caso
de um funcionário processado judicialmente pelo crime de tortura
que foi readmitido pela fundação
na semana passada.
Foi a terceira vez que a Febem,
instituição do governo de Geraldo
Alckmin (PSDB) -possível candidato à Presidência da República-, recontratou um réu em um
processo que apura tortura desde
a demissão em massa ocorrida
em fevereiro deste ano.
Naquele mês, a instituição demitiu 1.751 funcionários. Quatro
dias depois, porém, a fundação
disse que um grupo poderia voltar desde que não tivesse seu nome envolvido em processo, inquérito policial ou procedimento
do Ministério Público que apurasse agressão a internos.
A Febem chegou a encaminhar,
também no mês de fevereiro, listagens de funcionários a serem recontratados para que fossem analisadas previamente pelos promotores. De duas relações, 77 nomes
acabaram sendo vetados pelo Ministério Público.
Mas a Folha revelou que funcionários vetados foram recontratados mesmo assim. A fundação
disse que demitiu esses agentes
depois que soube dos casos.
Novo levantamento
Ontem, porém, a Promotoria da
Infância e Juventude de São Paulo
fez um novo levantamento a partir das contratações publicadas
pela fundação no "Diário Oficial"
do Estado nos últimos 15 dias.
Nove casos novos foram identificados pelos promotores de Justiça -a conta não inclui o funcionário processado por tortura. Nos
procedimentos feitos pelo Ministério Público, os agentes recontratados foram reconhecidos, em depoimento, pelos internos como
seus agressores.
Em um dos casos, um funcionário chegou a ser apontado como
agressor por oito internos supostamente espancados no mesmo
dia. Outro funcionário recontratado, segundo levantamento da
Promotoria, é reconhecido por
adolescentes em três situações de
supostas agressões.
Dos nove recontratados que estão sob investigação, oito foram
nomeados para a função de coordenador de equipe -cargo de
confiança, preenchido sem concurso público. Um deles, no entanto, foi admitido pelo "Diário
Oficial" para o cargo de agente de
segurança em contrato emergencial por 180 dias.
"A própria Febem declarou publicamente que o Ministério Público seria consultado previamente. Isso [readmissão de investigados] mostra que a fundação realiza contratações sem qualquer
controle. Não está seguindo nenhuma política educacional, simplesmente tentando suprir seus
quadros funcionais", afirma o
promotor Enilson Komono.
Para ele, essas contratações dão
margem a suspeitas da volta da
chamada linha-dura. "Com isso, a
Febem levanta sobre si a suspeita
de que a "política do couro" [institucionalização das agressões] estaria sendo retomada", diz.
Segundo o coordenador estadual do Movimento Nacional de
Direitos Humanos, o advogado
Ariel de Castro Alves, a recontratação de suspeitos de agressões a
internos mostra muito mais do
que um descontrole. "Se a instituição contrata acusados de tortura, supostamente concorda com
essas práticas", afirmou Alves.
O advogado critica a Corregedoria da Febem. "A Corregedoria
deveria ter analisado esses nomes.
A Febem é reincidente nesse tipo
de falha. Não é a primeira vez que
isso acontece e parece que a fundação não faz nada para mudar
isso", afirma Alves.
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