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SAÚDE
Senado conclui projeto de lei que permite a "dupla entrada" no Hospital das Clínicas; Jatene se despede do Incor
Atendimento diferenciado pode virar lei
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local
A "dupla entrada", que permite
atendimento diferenciado a pacientes conveniados e particulares
ou do SUS em hospitais universitários, poderá ser regulamentada em
forma de lei.
A iniciativa partiu de Adib Jatene, que procurou parlamentares
em Brasília na semana passada pedindo que impedissem o fechamento do atendimento a conveniados e particulares. Segundo ele,
"isso inviabilizaria o bom funcionamento desses hospitais".
Ontem, durante cerimônia de
homenagem a Jatene -que se despediu da direção geral do Incor
(Instituto do Coração)-, o homenageado fez novamente o apelo
diante de autoridades como o presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA),
o ministro José Serra (Saúde) e o
governador Mário Covas.
Na semana passada, a Folha informou que a chamada "dupla entrada" do Hospital das Clínicas estava com os dias contados.
Ou seja, pacientes do SUS, conveniados ou particulares passariam a dividir as mesmas filas, a
mesma espera, o mesmo conforto
e os mesmos leitos.
Isso porque o Ministério Público
de São Paulo, considerando esse
procedimento inconstitucional
"por entender que fere o direito de
igualdade de atendimento", propôs que o HC acabasse com os
atendimentos diferenciados em
um prazo de seis meses.
Mas a situação pode se reverter
porque o Senado está concluindo
um projeto de lei que pode permitir o atendimento diferenciado nos
hospitais universitários.
O projeto, que deve ser apresentado por Antonio Carlos Magalhães nos próximos dias, estabelece um teto de 25% dos leitos dos
hospitais para pacientes de convênios ou particulares.
Em suas últimas palavras como
diretor-geral do Incor, Jatene pediu o apoio de ACM e de todas as
autoridades para salvar os hospitais universitários. "O Ministério
Público diz que a lei atual não permite o atendimento diferenciado,
mas então vamos mudar a lei."
"Sem os recursos vindos dos
convênios e dos particulares, não
há condições de os hospitais se
sustentarem, os recursos vindos
do SUS não são suficientes."
Jatene também apontou como
"grave defeito" o fato de os hospitais universitários não manterem
os professores por tempo integral.
"O hospital público universitário
no Brasil só atende pobre. Isso faz
com que o professor vá atender a
clientela privada no consultório
próprio ou no hospital privado e
fique cada vez menos tempo no
hospital universitário."
O ministro José Serra disse ser a
favor do projeto. "Estou de acordo
com o princípio de Jatene e vamos
apoiar isso no Congresso. É muito
importante manter a qualidade de
atendimento nesses hospitais para
carentes. E as pessoas que podem
pagar ajudam pagando para quem
não pode", afirmou.
O pedido de instauração de um
inquérito civil sobre o atendimento privado dado pelo HC foi feito
em dezembro de 97 pelo deputado
Jamil Murad (PC do B). O inquérito está sendo presidido pelo promotor Vidal Serrano Nunes Junior, do Grupo de Atuação Especial da Saúde Pública e da Saúde do
Consumidor do Ministério Público. De acordo com o promotor, a
nova lei, mesmo se aprovada, fere
o princípio constitucional da
igualdade.
Segundo ele, com exceção do Incor (um dos seis institutos do HC),
apenas cerca de 2% da receita total
do HC provém de convênios e particulares. "Só o Incor deverá ter
tratamento diferenciado nessa
questão", diz o promotor. O atendimento de conveniados e particulares representa 63% dos recursos
do Incor.
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