São Paulo, terça-feira, 02 de julho de 2002

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Reação é mais lenta que a de alcoolizado

DA REPORTAGEM LOCAL

Motoristas que dirigem enquanto falam ao celular têm reações mais lentas em situações de risco no trânsito do que os alcoolizados. A conclusão é de um estudo do Laboratório de Pesquisa em Transportes (Transport Research Laboratory), divulgado em Londres em março deste ano.
Os pesquisadores utilizaram um simulador e submeteram ao teste, durante três meses, 20 voluntários entre 21 e 45 anos.
A uma velocidade de 110 km/h, os motoristas que seguravam um celular tiveram uma distância de freagem 14 metros (45%) maior que a normal e dez metros (29%) maior que a dos embriagados. Os que falavam ao celular com viva-voz tiveram a distância de freagem oito metros maior (26%) que a normal e quatro metros (11%) maior que a dos alcoolizados.
A quantidade de álcool no sangue considerado foi superior a 0,8 grama por litro. No Brasil, a lei proíbe que motoristas dirijam com álcool acima de 0,6 g/l.
O estudo, patrocinado pela seguradora britânica Direct Line, apontou ainda que os motoristas que falavam ao celular foram menos capazes de manter uma velocidade constante e acharam mais difícil manter uma distância segura do veículo da frente.
Foi apresentada ainda uma pesquisa com 2.000 entrevistados, dos quais 80% concordaram que falar ao celular no trânsito distrai a atenção e 30% disseram que isso ocorre mesmo quando é usado um viva-voz.
As conclusões estão sendo utilizadas por parlamentares para que a lei seja mais restritiva. Na Inglaterra, os motoristas podem ser enquadrados por direção perigosa ou negligência, mas não há referências diretas ao celular.
A análise feita na Inglaterra é vista com ressalvas por especialistas brasileiros, que reconhecem os riscos do uso do celular no volante, mas temem a comparação com os motoristas alcoolizados.
"É uma interpretação perigosa. Pode levar a uma falsa idéia de que beber não é tão perigoso. Na verdade, são coisas completamente diferentes. O motorista que usa um celular geralmente não está em alta velocidade. Se provocar mais acidentes, eles são de menor gravidade", afirma Fabio Racy, presidente da Abramet.
"O álcool é mais grave porque altera a consciência. O celular deixa os motoristas tensos, preocupados", diz Roberto Scaringella.
Phillip Gold, consultor de transportes do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), afirma que os resultados do estudo não são surpreendentes. "Quem bebe e dirige entra no carro embriagado, mas voltado para a ação de dirigir. O motorista que usa celular no volante não está concentrado no ato de dirigir."(AI)


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