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Para moças da favela, bom partido é PCC
Em busca de respeito dos moradores, roupas e dinheiro, garotas procuram namorar os membros da facção criminosa
Infidelidade costuma ser aceita e há escala na relação, em que as amantes são as terceiras-damas, abaixo
da mulher e da namorada
João Wainer/Folha Imagem
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Casebre destruído na parte alta da favela Pedra sobre Pedra, zona sul de SP, divisa com Diadema |
DA REPORTAGEM LOCAL
Na frente do casebre de alvenaria, um varal repleto de roupinhas coloridas de nenê dependuradas. Além de crianças,
o local abriga quatro mulheres.
Todas já são mães, e duas delas
estão grávidas novamente
-sendo que uma, morena de
cabelos negros e longos, namora um gerente do PCC (Primeiro Comando da Capital).
"Dá status namorar alguém
do partido. Você é sempre respeitada por onde quer que passe. Ninguém, nunca, irá te tirar
do sério porque sabe que poderá pagar por isso", conta Silvana (nome fictício), 27, que mora
na favela Pedra Sobre Pedra.
Assim como ela, muitas outras mulheres buscam um homem ligado à facção criminosa
na região. Lá, o significado de
bom partido tem de vir acompanhado da sigla PCC.
"Se o cara for da facção, melhor. Ao mesmo tempo é um
risco, mas a mulher não se envolve nas reuniões. Fica de fora.
Ela só dá o amor", sorri Silvana,
que há quatro anos disputou o
seu homem com outras.
"Assim como eu, muitas estão à procura de um cara do
partido. Eles nos dão roupas,
enxoval de criança, nos levam
às festas e ainda pagam a conta", narra ela, que já teve um filho com o namorado. O pai da
criança aparece eventualmente, diz, para dar dinheiro a ela,
que gasta quase tudo com roupas e comida para o nenê.
É um exemplo da ampliação
da atuação do grupo criminoso,
que já ajudava parentes de detentos e agora tem a rede para
boa parte da comunidade.
Para se aproximar dos seus
alvos, a tática das mulheres é
partir para o ataque. Curtir rap,
funk, usar calça de cintura baixa bem apertada e rebolar muito nas festas ganha pontos. "As
meninas ficam num canto só
marcando o gatinho que querem. Elas geralmente sabem
quem é do partido", diz ela, que
não quer nem pensar na possibilidade de já ter sido traída.
A infidelidade na favela, principalmente por parte de traficantes e membros do PCC, é geralmente aceita por suas namoradas e até pelas mulheres.
Geralmente a mulher é conhecida como primeira-dama.
As namoradas são batizadas de
segundas-damas. As amantes
ganham o posto de terceira-dama e assim por diante.
"Não importa se meu negão
vai ficar beijando ou transando
com outra por aí. O que vale é
que ele me dá tudo e todos me
cumprimentam por onde eu
passo. Sou tratada feito rainha", afirma Joana, 27.
Seu marido é um "funcionário" do partido. Realiza pequenas tarefas de ordem operacional dentro da favela Pedra sobre Pedra, como dar recados.
Ana, 30, é uma das primeiras-damas do "clube da luluzinha" das mulheres do PCC. Segundo ela, o fato de namorar alguém da facção acaba levando a
mulher para o mundo do crime.
"Como a gente ama o homem
do nosso lado, muitas vezes nos
vemos participando do tráfico,
como olheiras. Dizemos se a
polícia vem ou não nas biqueiras [onde é feito o tráfico]."
Apesar de se envolver no comércio de cocaína, ela diz que já
não é mais viciada e que a droga
nem é vista por seus filhos. "O
único pó branco que deixo entrar aqui é o leite que eles
[membros do PCC] me dão."
Já Cláudia, 20, ainda busca
seu partido. Ela quer o respeito
dos demais moradores e conta
que jamais namoraria policial.
"Antes do partido a polícia
invadia nossas casas", fala
Cláudia, que não sabe como dizer à mãe que está a fim de um
"falcão" (vigia armado). "Mamãe é evangélica, mas acho que
gostaria de ganhar um sofá novo."
(KLEBER TOMAZ)
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