São Paulo, quinta, 2 de julho de 1998

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MORTALIDADE
Ministério Público quer saber se precariedade de hospital gerou óbitos, em dois finais de semana próximos
Polícia apura morte de 9 bebês em Guarulhos

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O Ministério Público de Guarulhos (Grande São Paulo) determinou ontem abertura de inquérito policial para investigar a morte de cinco dos seis bebês que estavam na UTI neonatal do Hospital Maternidade Municipal da cidade, no último final de semana.
O promotor de Justiça criminal de Guarulhos Levy Emanuel Magno disse que será apurada ainda a morte de outros quatro bebês prematuros, ocorridas anteriormente aos óbitos do final de semana.
"Solicitei à Delegacia Seccional de Guarulhos a instauração de inquérito policial sobre esse caso. Toda a investigação será acompanhada por mim", disse Magno.
Segundo ele, foi necessário pedir para a polícia abrir o inquérito porque ela é capaz de pedir os exames periciais no hospital.
O promotor disse que iniciará a apuração do caso examinando os prontuários dos bebês mortos e colhendo depoimentos dos médicos da UTI, principalmente daqueles que tiveram contato direto com as crianças que morreram.
Magno afirmou que, no momento, não há elementos que indiquem a causa da morte dos bebês, embora "se saiba que a UTI do hospital não vinha recebendo a manutenção devida".
Ele disse que no dia 1º de junho o diretor clínico do hospital, Cid Vieira Franco de Godoy Filho, o havia procurado para notificar a precariedade de alguns dos aparelhos do hospital.
"No último dia 15, oficiamos à Prefeitura de Guarulhos para nos responder sobre as condições de infra-estrutura do hospital, que é de sua responsabilidade. No entanto, até o momento não recebemos nenhuma resposta", afirmou o promotor.
A assessoria de imprensa da Prefeitura de Guarulhos informou que o secretário de governo, Paulo Magalhães, disse que o ofício seria respondido e enviado hoje ao Ministério Público.
O diretor clínico do Hospital Maternidade Municipal de Guarulhos não foi localizado ontem para se manifestar sobre o caso.
As mortes
De acordo com o hospital, um dos recém-nascidos mortos no últim fim-de-semana adquiriu meningite dentro da UTI neonatal.
Outros três, que nasceram pesando 550 g, 730 g e 830 g, teriam morrido por "prematuridade extrema".
O quinto bebê, que nasceu em parto domiciliar no sexto mês de gestação, foi internado no último dia 18 pesando 1.250 g. Ele sofreu infecção generalizada.
O diretor clínico havia dito que o fato de o bebê ter nascido em casa e ser prematuro são fatores que facilitam a infecção.
A direção do hospital, entretanto, não descarta a possibilidade de os bebês terem sido vítimas de infecção hospitalar.
Médicos do hospital vêm denunciando desde maio ao CRM (Conselho Regional de Medicina) a falta de recursos humanos e de infra-estrutura para o atendimento de pacientes.



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