São Paulo, quinta, 2 de julho de 1998

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Novas tecnologias nas escolas colocam professores em xeque

MARTA AVANCINI
A introdução de novas tecnologias nas escolas estão colocando em xeque o professor. Se, no passado, bastava que ele fosse um especialista em uma área de conhecimento, hoje ele tem de ser um articulador de tecnologias e de informações.
"No Brasil, a formação do professor ainda se baseia na idéia de que ele tem de ensinar conteúdos. Mas, com a infinidade de formas de acesso à informação, ele tem de mudar, e está mudando", diz Cleunice Rehen, coordenadora do programa TV Escola na Bahia.
A visão de Cleunice é parecida com a dos especialistas que participaram do seminário Dois Anos de TV Escola, encerrado ontem em Brasília.
"As tecnologias estão aí e têm de ser assimiladas. Em educação, já passamos pela fase da memorização, da estimulação e da construção. Hoje, temos tudo isso e algo mais, que ainda estamos descobrindo", diz Omar Chanona Burguete, diretor-geral da Unidade de Televisão Educativa do México.
O professor se transforma em orientador -ele mede a relação do aluno com a tecnologia, ajuda-o a localizar e a filtrar a informação. Para isso, ele tem de dominar a tecnologia.
Por causa da tecnologia -que inclui da TV à Internet-, o professor se vê diante do desafio de processar um volume maior de informações do que estava habituado, além de ser obrigado a usar diversos tipos de instrumentos e explorar os recursos que oferecem.
"Já superamos a fase da sociedade da informação. Hoje, a sociedade está se moldando sobre o conhecimento. Um indivíduo tem de saber aprender e saber o que fazer com o que aprendeu", diz Gilles Séguin, diretor de Desenvolvimento de Mercados Nacionais da Associação de Universidades Comunitárias do Canadá.
Daí se entende os investimentos dos nove países que participaram do seminário em tecnologia e em formas alternativas de transmissão de informações.
No México, existem oito canais educativos com 12 horas de programação educativa por dia. A transmissão é por satélite, atingindo 8 milhões de pessoas. "Até o final do ano, vamos viabilizar o acesso à Internet por meio da TV em escolas", diz Burguete.
Na Argentina, uma rede de TV por cabo privada oferece programação educativa grátis para 10 mil escolas. No Canadá, os alunos recebem laptops ao se matricular em universidades. Além disso, o fato de um aluno usar a Internet para fazer um trabalho escolar pode contar pontos na avaliação.
Se, na visão dos especialistas, a incorporação da tecnologias na educação já é uma realidade, para professores brasileiros ela ainda é um desafio a ser superado.
"No Brasil, a TV existe há quase 50 anos, mas na sala de estar e não na sala de aula. Com a TV Escola estamos queimando etapas, mas ainda estamos 500 anos atrás dos países desenvolvidos", diz Maria da Graça Vinholi, coordenadora do TV Escola em MS. No entanto, para ela, a escola tem de mudar sob risco de ser "atropelada pelo conhecimento".



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