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Entre prós e contras, especialistas acham projeto da Prefeitura de São Paulo bom na teoria, mas com problemas na prática
Sucesso de CEUs depende de qualificação
DA REPORTAGEM LOCAL
Especialistas em educação consideram o projeto dos CEUs bom
na teoria, mas ressaltam que seu
sucesso, na prática, depende de
fatores como qualificação de professores, um projeto pedagógico
diferenciado e uma gestão interna
que possibilite a interação não só
com a comunidade mas também
com o resto da rede escolar.
"Levando em conta a experiência dos Cieps [Centros Integrados
de Educação Pública, implantados no Rio, nos anos 80, pelo ex-governador Leonel Brizola], o
projeto [dos CEUs] é importante.
Mas a prática no Rio enfrentou
problemas. Os equipamentos são
necessários, mas é fundamental
ter também profissionais altamente preparados e um projeto
pedagógico novo", diz o reitor da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro), Aloisio Teixeira.
Outro ponto da experiência carioca que pode servir de contra-exemplo, diz, foi o abandono da
rede "convencional" de ensino.
"No cenário atual da educação
brasileira, temos de nos preocupar com qualidade, o que só se
consegue dignificando o professor. Forma e conteúdo têm de andar juntos", diz Jader Nunes,
coordenador da comissão de LDB
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação) da Andifes (associação de
reitores das universidade federais) e reitor da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).
"O mais importante é como a
gente dá as aulas porque, se eu
não trabalhar uma nova forma de
ensinar matemática, português,
geografia, não adianta introduzir
dança, teatro, computador. Essas
coisas [teatro, cinema, dança] são
boas, mas só serão úteis se o jeito
de ensinar for outro. Se for o de
sempre, não vai fazer diferença",
afirma a ex-deputada federal Esther Grossi, um dos principais nomes do PT na área de educação.
Gaiola de ouro
Alguns críticos são mais duros.
"A única diferença entre os alunos das escolas "normais" e os dos
CEUs é que os primeiros estão
numa gaiola enferrujada, enquanto os segundos estão numa
gaiola de ouro. O que importa, a
gaiola, não muda", diz Vitor Henrique Paro, professor titular da
Faculdade de Educação da USP.
Segundo ele, a educação pública
não vai melhorar com os CEUs
porque as causas de sua deficiência -salas superlotadas, professores mal pagos, currículos distanciados da realidade dos alunos
etc.- não vão ser atacadas.
"Não é um projeto de educação,
é uma desconversa. Por que não
pegar esse dinheiro e investir em
toda a rede de ensino público? Por
que não melhorar as praças que já
existem na cidade? Por que não
cuidar das piscinas públicas?"
Já Hebe Tolosa, secretária da
Educação na gestão Celso Pitta
(97-00), citou o antropólogo
Darcy Ribeiro (22-97) para criticar: "O bom educador consegue
ensinar até em praça pública."
Ela diz ainda que o projeto pode
gerar "revolta" ao colocar, na
mesma região, crianças no CEU e
outras em locais precários, como
as "escolas de latinha".
Mas os CEUs também têm defensores. "Todo gasto em educação é bem aproveitado se houver
dedicação dos educadores e alunos", diz Ennio Candotti, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
"Há diversas formas para qualificar a educação no país. Esse projeto é um dos meios", afirma Nelio Bizzo, vice-presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação e ex-secretário da Educação de Marta.
Bizzo diz que o planejamento
arquitetônico dos CEUs incentiva
pais e crianças a procurarem a escola porque une lazer e educação.
Ele sustenta ainda que o espaço
permite que professores de uma
região encontrem-se para debater
e fazer treinamentos, criando assim uma rede entre as escolas.
É exatamente a defesa do também ex-secretário da Educação
Fernando José de Almeida que
deu o pontapé inicial nos CEUs.
"São Paulo não vai cair nos mesmos erros dos Cieps. O CEU viabiliza a valorização da população
porque o primeiro agente sociabilizador de quem vive na periferia é
a escola e, se ela é bonita, com
uma infra-estrutura boa, o aluno
entra na vida como alguém que se
valoriza, que tem auto-estima."
O presidente da comissão de
Educação da Câmara Municipal,
Beto Custódio (PT), diz que a implantação dos CEUs vai "beneficiar a periferia" porque reúne opções culturais e sociais. Ele esteve
ontem na inauguração do primeiro centro, em Guaianazes, uma de
suas principais bases eleitorais.
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