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São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2003

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HABITAÇÃO

A ação começou de madrugada, durou uma hora e acabou com 5 dos 200 ocupantes do Terminus com escoriações

Polícia retira invasores de hotel na Ipiranga

Alexandre Meneghini/Associated Press
Mãe segura criança após saída do hotel Terminus; depois, famílias foram para a praça da República


DA REPORTAGEM LOCAL

Usando gás lacrimogêneo e balas de borracha, a Polícia Militar retirou ontem, em operação que durou uma hora, os cerca de 200 invasores que estavam no antigo hotel Terminus, na avenida Ipiranga, centro de São Paulo.
Cinco pessoas, entre elas uma criança de 4 anos, foram atendidas na Santa Casa de São Paulo com escoriações. Terminada a ação, por volta das 7h, famílias atravessaram a rua e instalaram-se na praça da República, que fica na frente do edifício.
O prédio foi invadido no dia 21 de julho, durante uma série de ocupações organizada pelo MSTC (Movimento dos Sem-Teto do Centro) na região central.
Segundo Ednalva Silva Franco, uma das líderes do movimento, as famílias devem permanecer na praça até que seja encontrada uma solução.
A ação da PM começou a ser preparada às 4h30 de ontem. A avenida foi interditada. Quando foi iniciada, por volta de 6h, a maioria dos invasores dormia ou já tinha saído para o trabalho. Cerca de 200 policiais teriam participado da reintegração de posse, segundo um oficial.
De acordo com o tenente Celso Gumiero da Silva, auxiliar do comando da operação, a entrada estava bloqueada por máquina e entulho. Um policial abriu passagem para os demais.
Os bombeiros foram chamados para apagar focos de fogo principalmente na cobertura do edifício, que teriam sido provocados pelos invasores. Quatro escudos de policias, segundo a PM, foram quebrados por objetos arremessados pelos sem-teto. "Eles tinham predisposição para resistir. Fecharam toda a parte da frente. Quem quer negociar não faz barricada", afirmou o tenente coronel Abel Batista Camillo Júnior, chefe do setor de Comunicação Social da PM.
Não foram encontradas armas. Segundo a polícia, um coquetel Molotov foi apreendido antes de ser utilizado e "jogaram madeira e objetos nos policiais". Camillo Júnior disse que ação foi filmada e que "há prova de que não existiu abuso."
"Fui pisoteado e levei borrachadas no momento em que socorria uma criança", afirmou Ivan Paulo Amorim, 38, que foi atendido na Santa Casa. Ele diz ter sofrido luxação na clavícula, mas o hospital não confirmou a informação.
O advogado Luis Carlos Laurindo, que trabalha para o escritório do deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, disse que irá entrar com representação contra o comando da operação para que sejam apurados possíveis abusos. Segundo ele, pelo menos outras seis pessoas apresentavam escoriações, além das que passaram pelo hospital. Nenhum boletim de ocorrência sobre agressão tinha sido registrado até ontem.
Laurindo negou que famílias tivessem armazenado material combustível e colocado fogo em pontos do edifício.
"Fomos agredidos. Nos chamavam de porcos imundos, colocaram pessoas de joelho, atiraram com bala de borracha em criança", disse Marcos Mendes, 34, integrante do movimento. "Foram quebrando os vidros da janela com os cacetetes", afirmou Francisca Getulina Silva Gomes, 18.
A polícia levou 42 integrantes do movimento ao 3º DP (Santa Ifigênia), apontando-os como supostos responsáveis por danos ao prédio e resistência. Foi aberto inquérito policial sobre. Ninguém foi preso. Segundo o delegado Nilton César de Araújo Franco, dois sem-teto tinham passagem pela polícia. (FABIANE LEITE)


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