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SETEMBRO NEGRO
Para Alencar, delegado foi descortês ao aceitar posar com símbolo dos policiais civis descontentes
Indisciplina causa a queda de Hélio Luz
RONI LIMA
da Sucursal do Rio
O governador do Rio, Marcello
Alencar (PSDB), demitiu ontem o
chefe da Polícia Civil, Hélio Luz,
irritado com o que chamou de atitude "descortês" e "indisciplinada" do delegado.
Luz havia reclamado publicamente da demora do governo em
enviar, para a Assembléia Legislativa do Rio, um prometido plano
de cargos e salários que seria o primeiro passo para modernizar o
aparelho policial.
O delegado chegara a admitir
que, caso o projeto de lei não fosse
enviado, ele usaria uma tarja negra
no braço em sinal de protesto
-símbolo da estratégia de reivindicação de policiais descontentes,
batizada de "setembro negro".
Por volta das 10h30 de ontem,
quando parou para tomar café em
um bar antes de entrar no prédio
da Polícia Civil, no centro, Luz foi
cercado por militantes do Núcleo
de Defesa dos Policiais Civis.
Embora tenha dito que acreditava que o governador enviaria o
projeto de lei à Assembléia até o
final da tarde de ontem, Luz aceitou posar para fotógrafos com tarjas negras nos dois braços.
Não muito longe dali, na praça
Onze, Alencar inaugurava um
centro para atender adolescentes
infratoras. Questionado por um
jornalista sobre a posição de Luz, o
governador anunciou a demissão.
O secretário de Estado da Segurança Pública, general Nilton Cerqueira, pegou o celular de um assessor e ligou para Luz, informando-o que o governador acabara de
anunciar a sua exoneração.
À tarde, Alencar disse que Luz
"pisou na bola", pois sabia que o
plano seria enviado no final da tarde de ontem para a Assembléia. O
subchefe da Polícia Civil, João
Bosco, assumiu interinamente.
Vítima e candidato
Para um dos coordenadores do
Núcleo de Defesa dos Policiais Civis, inspetor Claudio Cruz, Luz
montou um "teatrinho" pois
"precisava sair como vítima", já
que estaria desgastado junto à categoria dos policiais.
Cruz afirmou que o delegado
-que ficou conhecido como um
policial de esquerda- quer concorrer pelo PT a um cargo eletivo.
Após se reunir com Cerqueira e
acertar formalmente sua saída,
Luz disse em entrevista que pretendia ficar até o final do atual governo, para ajudar na implantação
do plano de cargos e salários.
Questionado se conversaria com
o PT sobre uma eventual candidatura, afirmou que ia tirar uma licença e que "o momento agora é
de conversa na serra". O delegado
mora em um apartamento no município serrano de Nova Friburgo.
Luz afirmou que ser demitido
"não é agradável", mas que a divergência "é normal" em um Estado democrático.
Segundo Luz, a situação dos policiais chegou "a um limite", sendo necessário "ir além dos discursos". Negando que tenha tentado
pressionar Alencar, o delegado
afirmou: "Nosso policial não pode ter salário de R$ 300".
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