São Paulo, terça, 2 de setembro de 1997.



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SETEMBRO NEGRO
Para Alencar, delegado foi descortês ao aceitar posar com símbolo dos policiais civis descontentes
Indisciplina causa a queda de Hélio Luz

RONI LIMA
da Sucursal do Rio

O governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), demitiu ontem o chefe da Polícia Civil, Hélio Luz, irritado com o que chamou de atitude "descortês" e "indisciplinada" do delegado.
Luz havia reclamado publicamente da demora do governo em enviar, para a Assembléia Legislativa do Rio, um prometido plano de cargos e salários que seria o primeiro passo para modernizar o aparelho policial.
O delegado chegara a admitir que, caso o projeto de lei não fosse enviado, ele usaria uma tarja negra no braço em sinal de protesto -símbolo da estratégia de reivindicação de policiais descontentes, batizada de "setembro negro".
Por volta das 10h30 de ontem, quando parou para tomar café em um bar antes de entrar no prédio da Polícia Civil, no centro, Luz foi cercado por militantes do Núcleo de Defesa dos Policiais Civis.
Embora tenha dito que acreditava que o governador enviaria o projeto de lei à Assembléia até o final da tarde de ontem, Luz aceitou posar para fotógrafos com tarjas negras nos dois braços.
Não muito longe dali, na praça Onze, Alencar inaugurava um centro para atender adolescentes infratoras. Questionado por um jornalista sobre a posição de Luz, o governador anunciou a demissão.
O secretário de Estado da Segurança Pública, general Nilton Cerqueira, pegou o celular de um assessor e ligou para Luz, informando-o que o governador acabara de anunciar a sua exoneração.
À tarde, Alencar disse que Luz "pisou na bola", pois sabia que o plano seria enviado no final da tarde de ontem para a Assembléia. O subchefe da Polícia Civil, João Bosco, assumiu interinamente.

Vítima e candidato
Para um dos coordenadores do Núcleo de Defesa dos Policiais Civis, inspetor Claudio Cruz, Luz montou um "teatrinho" pois "precisava sair como vítima", já que estaria desgastado junto à categoria dos policiais.
Cruz afirmou que o delegado -que ficou conhecido como um policial de esquerda- quer concorrer pelo PT a um cargo eletivo.
Após se reunir com Cerqueira e acertar formalmente sua saída, Luz disse em entrevista que pretendia ficar até o final do atual governo, para ajudar na implantação do plano de cargos e salários.
Questionado se conversaria com o PT sobre uma eventual candidatura, afirmou que ia tirar uma licença e que "o momento agora é de conversa na serra". O delegado mora em um apartamento no município serrano de Nova Friburgo.
Luz afirmou que ser demitido "não é agradável", mas que a divergência "é normal" em um Estado democrático.
Segundo Luz, a situação dos policiais chegou "a um limite", sendo necessário "ir além dos discursos". Negando que tenha tentado pressionar Alencar, o delegado afirmou: "Nosso policial não pode ter salário de R$ 300".



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