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COLETA SELETIVA
Moradores isolam sacos para evitar sujeira gerada por quem revira o lixo atrás de objetos para reciclagem
Prédios instalam lixeiras anticatador de rua
JOSÉ CARLOS PEGORIM
DA REDAÇÃO
"Eles abriam tudo, tudo, a calçada ficava uma sujeira", mas depois "melhorou muito, não resta
dúvida". A calçada do prédio na
rua Dona Veridiana, na Vila
Buarque (região central de São
Paulo), onde trabalha o zelador
João Mazotti, 62, não dá mais problema. Há quatro anos, por idéia
da então síndica, foi trocada a antiga lixeira aberta por uma com
tampa e cadeado para evitar que
catadores rasguem os sacos de lixo atrás de materiais recicláveis.
Os moradores cansaram de sujeira na porta de casa; os catadores querem apenas garimpar o
"ouro" perdido nos sacos pretos.
As lixeiras fechadas são incomuns, mas já estão em Indianópolis, Pinheiros, Vila Buarque e
Higienópolis. Normalmente são
pedidas a um serralheiro ou feitas
sob encomenda por fornecedores
de material para condomínios. O
preço varia de R$ 250 a R$ 800.
Às 17h o cadeado é colocado para impedir que as dezenas de carroceiros que cruzam a Dona Veridiana os vasculhem. Mazotti só
abre a lixeira para o "catador de
confiança", que não deixa sujeira.
Ali perto, na Martim Francisco,
a zeladora Lindineide da Costa Figueiredo, 45, pôs a mesma lixeira
fechada com grade. A sua tem até
tela interna. Está há dez anos no
posto, que era do marido. "A gente botava o lixo, os catadores vinham e faziam a maior bagunça."
A moradora Marlene Ferraresi,
59, acompanhou o aumento dos
catadores da janela do apartamento: "Há dez anos não tinha
problema", afirma.
Zeladores e moradores, catadores organizados e técnicos concordam com a associação entre
aumento de catadores e desemprego. Uma pesquisa que a Secretaria Municipal do Trabalho divulga hoje mostra que quase 60%
deles trabalhavam antes com carteira assinada e que pouco mais
da metade entrou no negócio há
no máximo quatro anos.
Envolvidos nessa expansão, os
zeladores dizem recear um atrito
ao pedirem ordem, pois não sabem qual será a reação.
O paraibano Enoque Euclides
da Silva, 39, convenceu o síndico
do edifício na alameda Guaramomis (Indianópolis, zona sul) a investir, há dois meses, numa lixeira
com tampa e dois cadeados. Sobre a tela interna, papelões protegem o metal mais fino da corrosão dos líquidos gerados pelo lixo,
o chorume. "Agora o prédio fica
limpo", avalia ele.
Ele copiou a idéia do prédio na
vizinha rua Jandira. Lá, José da
Costa Silva, 51, que trabalha em
prédios desde 1972, bolou ele
mesmo o projeto da lixeira. "No
Morumbi [onde trabalhava] eu tinha problema, mas não como
aqui." O bairro, plano e com muitos prédios de luxo, é vasculhado
o dia inteiro por catadores com
suas carroças de mão. O síndico
Sérgio Tadeu Fraia, de 47 anos,
empresário do ramo de distribuição de petróleo, conta que os lixeiros pararam para elogiar a lixeira fechada: "Eles adoraram
porque fica tudo organizado".
Atento à nova tendência dos
prédios de Indianópolis, o catador José Apolinário Ribeiro, 53,
acha que "vai fechar tudo, não vai
poder mais catar". Conta que nasceu e viveu no bairro, mas hoje fica na Chácara Flora -dormiria
na rua naquela noite.
Nos bons dias, puxa 200 quilos
de papelão, que lhe rendem R$ 12,
vendidos para o Caipira, intermediário da avenida Água Espraiada. Garante ser cuidadoso, lamenta o malfeito dos outros e
acredita conhecer as conseqüências para o restante da cidade: "As
mulheres rasgam o lixo. Aí entope
bueiro, entope tudo", afirma, referindo-se às catadoras.
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