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Prefeitura quer tirar carrinhos da área central
DA REDAÇÃO
O secretário municipal do
Trabalho, Gilmar Viana Conceição, é parte de uma disputa
duríssima com os catadores de
rua organizados de São Paulo.
Ele representa uma prefeitura
que quer tirar as carrocinhas
puxadas por catadores das ruas
do centro, para reorganizá-los
em cooperativas. O negócio da
reciclagem na cidade pode sustentar muita gente, mas certamente menos do que os 20 mil
que os catadores estimam ser.
A Secretaria do Trabalho acaba de fazer uma pesquisa qualitativa com os catadores. Entre
julho e agosto, 500 deles foram
ouvidos e os dados (95% de
confiabilidade e 4% de margem de erro, segundo a secretaria) revelam muito sobre eles.
Quase 60% dos catadores tiveram por última ocupação
um emprego com carteira assinada e 55,2% estão a menos de
quatro anos na rua. E, ressalta o
secretário, 47% dos catadores
têm entre 41 e 55 anos -alguém mais novo substituiu-os
no antigo emprego, geralmente
na construção civil (40%) ou
como ambulante (23,4%). O
mundo do trabalho dos catadores guarda semelhança com
o da classe média.
A maioria tem baixa escolarização (13% de analfabetos e
43% têm até a 5ª série), mas
18% terminaram a 8ª série. Um
terço mora no centro, onde está o filé mignon do lixo reciclável (os papéis brancos das centenas de escritórios, por exemplo) e, para quem precisa puxar
uma carrocinha, é uma enorme
vantagem competitiva. É no
centro que estão os albergues
(moradia para 14% dos catadores), os baixios de viaduto
(abrigo para 22,8%) e as moradias de baixo custo (55,4% têm
casa, inclusive a moradia na favela próxima). E é no centro
que uma ampla rede de serviços sociais públicos facilita a vida em condições extremas.
Viana sabe que é necessário
ter disposição para conversar
com os catadores organizados
e os setores sociais nos quais se
apóiam (a organização dos catadores na Baixada do Glicério
e centro começou como obra
dos franciscanos). Mas marca o
limite de ação da prefeitura:
"Não posso, como gestor de
políticas públicas, propor a
preservação das carroças -é
[trabalho] degradante". E não
faz sentido, a seu ver, "eternizar
uma anomalia".
Para a prefeitura, uma rede
de cooperativas e centros de
triagem abastecidos por caminhões da prefeitura vai gerar
renda maior por catador.
Sem carrocinhas, o trânsito
irá melhorar. Sem catadores,
acaba o subproduto indesejado
da catança, a sujeira de restos
inservíveis que caem de sacos
rasgados e entope bueiros. E lixo na rua é alimento de rato,
que traz a leptospirose.
Viana sabe que, sem a circulação de carrocinhas, na ponta
da coleta, o negócio da reciclagem comporta menos gente do
que o provável número de catadores nas ruas, e admite que a
prefeitura terá de ter políticas
públicas para atender quem ficar de fora. Espera, enfim, conversar muito ainda, antes de
atender cidadãos que, pagando
impostos, preferem as ruas
limpas e desobstruídas.
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