São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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Prefeitura quer tirar carrinhos da área central

DA REDAÇÃO

O secretário municipal do Trabalho, Gilmar Viana Conceição, é parte de uma disputa duríssima com os catadores de rua organizados de São Paulo. Ele representa uma prefeitura que quer tirar as carrocinhas puxadas por catadores das ruas do centro, para reorganizá-los em cooperativas. O negócio da reciclagem na cidade pode sustentar muita gente, mas certamente menos do que os 20 mil que os catadores estimam ser.
A Secretaria do Trabalho acaba de fazer uma pesquisa qualitativa com os catadores. Entre julho e agosto, 500 deles foram ouvidos e os dados (95% de confiabilidade e 4% de margem de erro, segundo a secretaria) revelam muito sobre eles.
Quase 60% dos catadores tiveram por última ocupação um emprego com carteira assinada e 55,2% estão a menos de quatro anos na rua. E, ressalta o secretário, 47% dos catadores têm entre 41 e 55 anos -alguém mais novo substituiu-os no antigo emprego, geralmente na construção civil (40%) ou como ambulante (23,4%). O mundo do trabalho dos catadores guarda semelhança com o da classe média.
A maioria tem baixa escolarização (13% de analfabetos e 43% têm até a 5ª série), mas 18% terminaram a 8ª série. Um terço mora no centro, onde está o filé mignon do lixo reciclável (os papéis brancos das centenas de escritórios, por exemplo) e, para quem precisa puxar uma carrocinha, é uma enorme vantagem competitiva. É no centro que estão os albergues (moradia para 14% dos catadores), os baixios de viaduto (abrigo para 22,8%) e as moradias de baixo custo (55,4% têm casa, inclusive a moradia na favela próxima). E é no centro que uma ampla rede de serviços sociais públicos facilita a vida em condições extremas.
Viana sabe que é necessário ter disposição para conversar com os catadores organizados e os setores sociais nos quais se apóiam (a organização dos catadores na Baixada do Glicério e centro começou como obra dos franciscanos). Mas marca o limite de ação da prefeitura: "Não posso, como gestor de políticas públicas, propor a preservação das carroças -é [trabalho] degradante". E não faz sentido, a seu ver, "eternizar uma anomalia".
Para a prefeitura, uma rede de cooperativas e centros de triagem abastecidos por caminhões da prefeitura vai gerar renda maior por catador.
Sem carrocinhas, o trânsito irá melhorar. Sem catadores, acaba o subproduto indesejado da catança, a sujeira de restos inservíveis que caem de sacos rasgados e entope bueiros. E lixo na rua é alimento de rato, que traz a leptospirose.
Viana sabe que, sem a circulação de carrocinhas, na ponta da coleta, o negócio da reciclagem comporta menos gente do que o provável número de catadores nas ruas, e admite que a prefeitura terá de ter políticas públicas para atender quem ficar de fora. Espera, enfim, conversar muito ainda, antes de atender cidadãos que, pagando impostos, preferem as ruas limpas e desobstruídas.


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