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Análise
A PF e o álibi ético de Lula
ROGÉRIO GENTILE
EDITOR DE COTIDIANO
Com a megaoperação deflagrada ontem pela Polícia Federal, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) ganhou mais
um trunfo na eleição deste ano.
Desarticulou um dos braços
financeiros da facção criminosa PCC e, de quebra, "passou a
perna" na polícia de São Paulo.
A imagem que fica é a de que
seu governo fez o serviço que a
turma do secretário Saulo de
Castro Abreu Filho -leia-se a
turma do ex-governador e presidenciável Geraldo Alckmin
(PSDB)- não conseguiu.
Mais do que isso, ao desbaratar a quadrilha de roubo a banco da organização criminosa,
pode ainda ter tirado a sorte
grande, fisgando um dos envolvidos no rumoroso seqüestro
do jornalista Guilherme Portanova e do auxiliar técnico Alexandre Calado, da TV Globo.
Pouco importa que a Polícia
Federal esteja há mais de um
ano literalmente correndo
atrás da quadrilha, a mesma
que furtou o Banco Central de
Fortaleza (CE), e que até agora
não tenha conseguido recuperar quase nada.
Dos R$ 164,8 milhões furtados no maior assalto da história
do país, apenas R$ 18 milhões
foram resgatados pela Polícia
Federal. Alguns dos quais, é necessário lembrar, achados por
garotos depois que uma bola de
futebol caiu numa casa abandonada. Uma piada.
Em ano de eleição presidencial, o que vale mesmo é o marketing político, o discurso. Lula, que já tem enorme vantagem nas pesquisas sobre Alckmin, ganhou mais essa.
Feriu o PCC e esvaziou a
constatação tucana -verdadeira- de que a facção criminosa
nascida nas penitenciárias do
Estado se fortalece com as armas e drogas que a PF não vê
passar pelas fronteiras.
Entre janeiro e julho, vale o
registro, foram apreendidas
apenas 107 armas -coincidência ou não, fronteira é um assunto que não dá tanta mídia.
O presidente da República,
que não tem respostas para o
mensalão e para as incontáveis
denúncias contra a velha companheirada do PT, prefere se
agarrar às espetaculosas ações
especiais da PF -de janeiro de
2003 até o início de agosto já
foram quase 280 (no segundo
mandato de FHC, cerca de 60).
Se o Bolsa-Família é o principal cabo eleitoral de Lula, as
operações da PF se transformaram no seu contra-argumento,
no seu único álibi ético.
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