São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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Fechamento de hospitais e greve mostram caos na saúde

População atendida reclama de superlotação, de falta de infra-estrutura e de pessoal

Há unidades de transplante que foram desativadas, novos centros cirúrgicos fechados e equipamentos quebrados e sem conserto

Edson Ruiz/Folha Imagem
Familiares ajudam paciente no Hospital Geral Roberto Santos


DA REPORTAGEM LOCAL

A greve de profissionais da saúde no Nordeste, que provocou a morte de pacientes por falta de atendimento, e o fechamento de mais um hospital ligado a universidades federais revelam o caos do setor no país. O governo federal chegou a anunciar a liberação de R$ 2 bilhões, mas o Ministério da Fazenda disse que não há garantia de que esse montante vá sair.
A reportagem da Folha acompanhou um dia nos principais hospitais de cinco capitais do Nordeste (Salvador, Recife, Aracaju, Maceió e Fortaleza) e ouviu muita reclamação de superlotação, falta de infra-estrutura e de pessoal.
Entre os pacientes, exemplos dos 45,6 milhões de pessoas (88,5% do total da região) que dependem da saúde pública na área, há uma grande indignação contra a classe política, responsável, de acordo com eles, pelo descaso da saúde.
Nos 45 hospitais universitários federais do país, a dívida chega a R$ 450 milhões. Sem reajuste na verba enviada pelo governo há três anos e sem reposição dos quadros de funcionários, muitas das instituições começam a paralisar o atendimento à população.
Há unidades de transplantes que foram desativadas, novos centros cirúrgicos fechados e equipamentos quebrados sem nenhuma expectativa de uma data para conserto.
"Se não houver reajuste nos repasses, o sistema entrará em colapso. Muitos hospitais não chegarão ao ano que vem", afirma José Roberto Feraro, presidente da Abrahue (Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino).
O Ministério da Saúde nega que haja "caos" ou "apagão" no sistema público de saúde.
"Há problemas localizados, de algumas especialidades, mas o sistema funciona bem no país todo", afirmou na última sexta-feira o ministro José Gomes Temporão.
Para ele, o SUS (Sistema Único de Saúde) só terá chances de sustentabilidade a médio e longo prazos se regulamentada a emenda 29, que obriga Estados a aplicar 12% das receitas próprias em saúde.
Já o Ministério da Educação, responsável pelos repasses aos hospitais universitários federais, afirma que o modelo de financiamento dessas unidades já se esgotou. E lança como alternativa o novo modelo de gestão que a pasta da Saúde encaminhou ao Congresso.
A proposta do governo federal é alterar o regime jurídico de hospitais para permitir a criação de fundações estatais de direito privado, o que daria liberdade aos gestores, permitindo-lhes pagar mais aos médicos e cobrar-lhes mais.
O projeto encontra resistência entre representantes de entidades médicas e do Conselho Nacional de Saúde, que vêem nele risco de falta de controle social sobre o gerenciamento das instituições financiadas com o dinheiro público e inocuidade já que as mudanças dependem de alterações na forma de financiamento.


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