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AUTO-AJUDA
"A Revolução Sexual sobre Rodas", do psicólogo Fabiano Puhlmann, será lançado na próxima quarta-feira
Livro ajuda deficientes a conquistar afeto
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Golf preto desfila devagar pelas ruas de Pinheiros e Vila Madalena. É noite de sexta-feira, e os
barzinhos com mesas na calçada
estão animados. O jovem de cabelos para trás, os braços vigorosos
apoiados na janela do carro, atrai
olhares e comentários das moças
e adolescentes que integram a legião de paqueras.
Duas horas depois, o Golf estaciona na garagem de um condomínio do Morumbi, o jovem puxa
com as mãos um equipamento
portátil mantido no banco de trás,
apoia-se no encosto do carro e
acomoda-se no assento da cadeira. Com gestos firmes, ele conduz
a cadeira de rodas até o elevador e
diz boa noite ao porteiro pela câmera de televisão. Mais uma vez,
ele está voltando à solidão de paraplégico no quarto que ocupa na
casa dos pais.
A imensa maioria dos deficientes físicos não passeia de Golf. O
desafio está em subir no ônibus, e
a paquera parece um luxo distante das dificuldades de suas vidas.
Mas o relato serve para ilustrar as
barreiras que separam o mundo
dos "andantes" do universo dos
"cadeirantes". Sem uma redescoberta da autoconfiança, não pode
haver relacionamento. E, sem relacionamentos, não haverá muitos motivos para quem já perdeu
os movimentos tocar uma vida.
Este é o tema do livro "A Revolução Sexual sobre Rodas", que
está sendo lançado pelo psicólogo
Fabiano Puhlmann (Editora O
Nome da Rosa, R$ 18,00). Um dos
lançamentos ocorre na próxima
quarta-feira, às 19h30, no Sesc
Pompéia (rua Clélia, 93).
O subtítulo dá as dimensões do
desafio. Conquistar o "afeto e a
autonomia" quando as pernas
não se movem mais, muitas vezes
os braços não respondem, e a sensibilidade física desapareceu.
O trabalho de Puhlmann é fazer
com que deficientes físicos como
o jovem do Golf recuperem a confiança, deixem o carro no estacionamento e entrem nos bares conduzindo suas cadeiras de rodas.
O livro é uma contribuição
imensa para um universo de pessoas que se sentem excluídas de
tantos direitos, que o direito à sexualidade e ao amor parecem
nem contar. Em geral, o sentimento que prevalece é o da piedade, que não dignifica ninguém.
Mas sua leitura não se limita aos
deficientes, afirma Nelson Vitiello, presidente da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana e
autor do prefácio do livro. "O livro tem a ensinar a todos nós."
"As dicas e observações sobre
paquera e sexualidade, que facilitam a vida do deficiente, são uma
festa para aqueles que não têm deficiência", diz Puhlmann. Ele fala
com conhecimento de causa: 17
anos atrás, quando tinha 18 e fazia
curso de fisioterapia, um escorregão na beira da piscina provocou
uma lesão no pescoço e o deixou
tetraplégico.
Na cadeira de rodas, formou-se
psicólogo, especializou-se em psicologia hospitalar da reabilitação
pela Faculdade de Medicina da
USP (Universidade de São Paulo)
e tornou-se especialista em integração de pessoas com deficiências pela Universidade de Salamanca, na Espanha.
Há dez anos, nos corredores do
Hospital das Clínicas, ele conheceu Ana Lúcia Quirino Simões
Bernardi, 33, psicóloga clínica e
professora de danças sagradas. O
livro é dedicado a ela.
Mais informações na Associação Nosso
Lar, tel. 0/xx/11/6163-8681
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