São Paulo, segunda-feira, 02 de outubro de 2000

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AUTO-AJUDA
"A Revolução Sexual sobre Rodas", do psicólogo Fabiano Puhlmann, será lançado na próxima quarta-feira
Livro ajuda deficientes a conquistar afeto


AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Golf preto desfila devagar pelas ruas de Pinheiros e Vila Madalena. É noite de sexta-feira, e os barzinhos com mesas na calçada estão animados. O jovem de cabelos para trás, os braços vigorosos apoiados na janela do carro, atrai olhares e comentários das moças e adolescentes que integram a legião de paqueras.
Duas horas depois, o Golf estaciona na garagem de um condomínio do Morumbi, o jovem puxa com as mãos um equipamento portátil mantido no banco de trás, apoia-se no encosto do carro e acomoda-se no assento da cadeira. Com gestos firmes, ele conduz a cadeira de rodas até o elevador e diz boa noite ao porteiro pela câmera de televisão. Mais uma vez, ele está voltando à solidão de paraplégico no quarto que ocupa na casa dos pais.
A imensa maioria dos deficientes físicos não passeia de Golf. O desafio está em subir no ônibus, e a paquera parece um luxo distante das dificuldades de suas vidas. Mas o relato serve para ilustrar as barreiras que separam o mundo dos "andantes" do universo dos "cadeirantes". Sem uma redescoberta da autoconfiança, não pode haver relacionamento. E, sem relacionamentos, não haverá muitos motivos para quem já perdeu os movimentos tocar uma vida.
Este é o tema do livro "A Revolução Sexual sobre Rodas", que está sendo lançado pelo psicólogo Fabiano Puhlmann (Editora O Nome da Rosa, R$ 18,00). Um dos lançamentos ocorre na próxima quarta-feira, às 19h30, no Sesc Pompéia (rua Clélia, 93).
O subtítulo dá as dimensões do desafio. Conquistar o "afeto e a autonomia" quando as pernas não se movem mais, muitas vezes os braços não respondem, e a sensibilidade física desapareceu.
O trabalho de Puhlmann é fazer com que deficientes físicos como o jovem do Golf recuperem a confiança, deixem o carro no estacionamento e entrem nos bares conduzindo suas cadeiras de rodas.
O livro é uma contribuição imensa para um universo de pessoas que se sentem excluídas de tantos direitos, que o direito à sexualidade e ao amor parecem nem contar. Em geral, o sentimento que prevalece é o da piedade, que não dignifica ninguém.
Mas sua leitura não se limita aos deficientes, afirma Nelson Vitiello, presidente da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana e autor do prefácio do livro. "O livro tem a ensinar a todos nós."
"As dicas e observações sobre paquera e sexualidade, que facilitam a vida do deficiente, são uma festa para aqueles que não têm deficiência", diz Puhlmann. Ele fala com conhecimento de causa: 17 anos atrás, quando tinha 18 e fazia curso de fisioterapia, um escorregão na beira da piscina provocou uma lesão no pescoço e o deixou tetraplégico.
Na cadeira de rodas, formou-se psicólogo, especializou-se em psicologia hospitalar da reabilitação pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e tornou-se especialista em integração de pessoas com deficiências pela Universidade de Salamanca, na Espanha.
Há dez anos, nos corredores do Hospital das Clínicas, ele conheceu Ana Lúcia Quirino Simões Bernardi, 33, psicóloga clínica e professora de danças sagradas. O livro é dedicado a ela.


Mais informações na Associação Nosso Lar, tel. 0/xx/11/6163-8681



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