São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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PAISAGEM URBANA

Outdoors dobram de tamanho e ampliam a discussão sobre os efeitos da poluição visual em São Paulo

Anúncios gigantes tomam conta da cidade

Rogerio Cassemiro/Folha Imagem
Anúncio com cerca de 2.000 metros quadrados na esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação, no centro de São Paulo


CONSTANÇA TATSCH
DA REDAÇÃO

Anúncios publicitários gigantes tomaram conta das grandes avenidas de São Paulo. De acordo com a Secretaria Municipal da Habitação, existem pelo menos 450 peças com mais de 50 m2 na cidade, deixando bem para trás os tradicionais outdoors de 27 m2. Alguns, ainda maiores, atingem centenas de metros quadrados.
Há três explicações para esse fenômeno: aumento do investimento dos anunciantes na mídia exterior, novas tecnologias que viabilizam a realização de peças em grandes proporções e uma legislação permissiva.
As principais vias da zona oeste, como as avenidas Rebouças e Faria Lima e a marginal Pinheiros, concentram a maior parte desses anúncios. A reportagem da Folha acompanhou a arquiteta e urbanista Lucila Lacreta, do movimento Defenda São Paulo, em um passeio de uma hora pela região.
"Os anúncios estão crescendo porque a lei permite. Na realidade, quase tudo que estamos vendo é permitido. Tem que mudar a lei. Antes tinha limite, não podia haver anúncios gigantescos", disse.
Aprovada em outubro de 2003, durante a gestão Marta Suplicy (PT), a legislação sobre a paisagem urbana foi baseada em projeto de lei da vereadora Myryam Athiê (PPS). "A lei é uma falácia. Ela liberou geral, e agora as pessoas estão percebendo a piora", critica Lacreta.
Entre as mudanças, as empenas cegas (laterais sem janelas de um edifício) foram liberadas em mais regiões, e a área das imagens seqüenciais foi aumentada. A lei também legaliza situações que não eram contempladas pela legislação anterior, como as plaquetas de imóveis nos fins de semana e anúncios em mobiliário urbano, ônibus e táxis e em grandes formatos.

Poluição visual
Além do tamanho, o excesso de peças publicitárias na cidade agrava o problema da poluição visual. De acordo com Alfredo Mancuso, diretor do Departamento de Cadastro Setorial da Secretaria da Habitação, a cidade tem cerca de 8.500 anúncios publicitários. Esse número não considera as peças irregulares, o que, segundo especialistas, pode elevar a estimativa para até 15 mil.
O professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) Issau Minami diz que a legislação "abriu um leque de permissividade". "Permite-se de tudo hoje, não há uma distinção de espaços, todos os corredores estão tomados. A permissão do uso do espaço aéreo se transformou em um fator financeiro. É o poder econômico se instalando", afirma. "Está uma lástima. Você não vê os edifícios lindos, as referências da cidade, só essas porcarias", completa.
Os efeitos que tanta informação visual tem sobre as pessoas não são conhecidos. "Não temos um estudo que leve em conta os efeitos psicossomáticos, o estresse visual. Você é obrigado a consumir essa imagem e ninguém pensa no seu direito de ver ou de não ver", disse o professor da FAU.
A arquiteta Camila Mendes Faccioni, que escreveu dissertação de mestrado sobre a legislação, acredita que muita gente gosta de ver essas peças tão grandes, coloridas e iluminadas. "Existe uma cultura do deslumbramento. Muita gente acha bonito", diz. Ela afirma que em cidades como Nova York (EUA) e Tóquio (Japão) os megapainéis ficam em áreas restritas. Essa seria, segundo Camila, uma boa solução para São Paulo.
O presidente da Associação Paulista Viva, Nelson Baeta Neves, acredita que os cartazes ambulantes, os outdoors e a propaganda política são os maiores poluidores, mas defende os grandes painéis iluminados. "Temos que distinguir o que é poluição do que é luminoso, turístico. A cidade se enfeita pela luminosidade no alto dos prédios. Precisamos de uma cidade bem decorada."
Embora os especialistas estejam preocupados com a poluição visual, nem todas as pessoas percebem o excesso de anúncios como um problema. "Acho que eles [os anúncios] reestruturam os prédios, geram empregos. Acho bom e bonito", disse o advogado Roberto Gonzales, que observava na avenida Paulista um painel gigante. Mas há quem proteste. "É horrível. Polui a cidade, que já é feia", critica o administrador de empresas Geraldo Higashi.

Combate
A Secretaria das Subprefeituras promete intensificar a fiscalização dos anúncios irregulares. "Montamos uma força-tarefa de mídia exterior. Basta de varal!", disse o secretário Walter Feldman, referindo-se ao excesso de publicidade pendurada nas ruas da cidade. Ele acredita que o primeiro passo para melhorar a situação é tirar o que está irregular. Futuramente, a legislação pode ser alterada.


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