São Paulo, quinta, 2 de outubro de 1997.



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SAÚDE
Principais programas do ministério foram interrompidos, afirma Carlini
Paralisia atinge Vigilância Sanitária, diz ex-secretário

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

O ex-secretário da Vigilância Sanitária Elisaldo Carlini disse ontem que a inspeção da qualidade do sangue é apenas um dos programas interrompidos dentro do Ministério da Saúde. "Os principais projetos e programas da vigilância estão paralisados e nenhum novo foi iniciado", afirmou.
Entre os interrompidos ou engavetados estariam a transformação da Vigilância numa agência "mais ágil e menos burocrática", o treinamento e a profissionalização de técnicos e os programas de inspeção de laboratórios e remédios.
Segundo Carlini, portarias que tornavam mais rigorosas venda e prescrição de medicamentos de risco (como inibidores de apetite e os retinóides, que podem causar danos ao feto) foram suspensas.
Carlini, 67, ocupou a secretaria nacional da Vigilância Sanitária de janeiro de 95 a março de 97, indicado pelo então ministro Adib Jatene. Leia trechos da entrevista:

Folha - O senhor apoiou a indicação da atual secretária Marta Martinez. Agora, critica a sua gestão.
Elisaldo Carlini -
- Todos que acompanharam minha saída sabem que defendi seu nome junto aos representantes das entidades, aos funcionários e ao próprio ministro. Ela tinha a experiência para fazer a vigilância sanitária que o país precisa. Mas quando vi os programas sendo interrompidos, comecei a criticar essa paralisia.
Folha - O que parou?
Carlini -
- Por exemplo, a transformação da vigilância numa agência com autonomia e a agilidade que essa atividade requer. A mudança já havia sido sugerida pelo Conselho Nacional da Saúde, em 1994 e era prioridade do ministro Jatene. Estava tudo pronto e definido quando o ministro saiu.
Outro projeto parado foi o Sinarra, um sistema de controle de registro de reações adversas. Nessa área, estamos 30 anos atrasados. A minuta da portaria já estava pronta, os centros que fariam as coletas estavam definidos, o presidente já tinha acertado que a assinatura ocorreria no Palácio do Planalto.
Folha - E o controle de medicamentos, foi interrompido?
Carlini -
- Nós tínhamos criado o Pniff, Programa Nacional de Inspeção da Indústria Farmacêutica e Farmoquímica, um programa sofisticado, seguindo as normas da Organização Mundial da Saúde e aprovadas pelo Mercosul. Entre 95 e 96, fizemos 740 inspeções de laboratórios e 304 reinspeções. Em 30% deles havia alguma irregularidade, 80 laboratórios foram fechados para adaptações e 200 tiveram o registro cancelado. Quando saímos, cerca de 100 laboratórios estavam fazendo as adaptações e aguardando nova inspeção. Até agora, as reinspeções não foram feitas, prejudicando e desagradando os laboratórios.



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