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ENTREVISTA
Psiquiatra afirma que pacientes podem tirar proveito da disfunção
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Como tirar proveito de um
comportamento impulsivo, hiperativo e desatento, tão criticado
pelos outros e por si mesmo?
Escrito de maneira bem-humorada e didática, o livro "Mentes
Inquietas - Entendendo Melhor o
Mundo das Pessoas Distraídas,
Impulsivas e Hiperativas", de Ana
Beatriz Barbosa Silva, 36, diretora
médica do Napades (Núcleo de
Medicina do Comportamento),
encara esse "tipo de funcionamento mental" como uma possibilidade de explorar talentos especiais. Abaixo, trechos da entrevista concedida à Folha.
(CF)
Folha - Em seu livro você aborda
de maneira às vezes até bem-humorada e diferente o fato de ter
TDA. Isso é possível?
Ana Beatriz Barbosa Silva - Eu
entendo o TDA (Transtorno de
Déficit de Atenção) como um
funcionamento cerebral. Se você
conhecesse alguém com TDA, saberia que, às vezes, com a distração e a enrolação deles, se metem
em situações engraçadas, ou como o povo diz, paga muito mico.
Então tem aquela coisa de aceitar
seus pequenos defeitos como coisas engraçadas, para ficar um
pouco mais leve.
Folha - Você afirma que o fato de
ter TDA também pode significar
criatividade, energia, inovação e
ousadia. Há o lado bom de ter TDA?
Silva - Claro. Inclusive outros tipos de funcionamento cerebral,
como o de uma pessoa melancólica, por exemplo, pode fazer dela
um excelente poeta ou artista. Todos os tipos de funcionamento cerebral diferente têm o seu lado
bom e o seu lado ruim.
Folha - Você também propõe uma
mudança no conceito de doença
mental. Qual seria essa mudança?
Silva - Doença mental, se a gente
for olhar nos manuais de diagnóstico em psiquiatria, vamos encontrar: "Quando determinadas características façam com que você
sofra, com que tenha prejuízos
nas relações social, profissional e
emocional".
Mas nem sempre uma pessoa
que tem uma tendência melancólica ou traços de TDA vai passar
por isso, se souber lidar bem com
essas características.
Folha - Mas o TDA pode ser considerado uma doença?
Silva - Eu não considero o TDA
uma doença, é um funcionamento cerebral diferente, porque, se a
gente for considerar uma doença,
cada tipo de personalidade vai ter
a sua característica ruim que vai
caracterizá-la como uma doença.
Qualquer um está suscetível a
adoecer, a ter um ataque de pânico, a ficar deprimida.
Existem até estudos que afirmam que, dependendo do tipo de
personalidade preexistente da
pessoa, ela vai tender a adoecer de
determinada maneira.
Folha - Ter TDA pode ser "legal"
ou há pessoas "legais" com TDA?
Silva - Existem pessoas "legais"
tendo TDA, sendo obsessivas,
sendo melancólicas, sendo histriônicas [que quer ser sempre o
centro das atenções].
Se as características dela provocam um sofrimento tal que ela
não esteja de bem com sua vida e
com seus afazeres, é claro que aí
não é "legal".
Folha - Qual pode ser o lado bom
de se ter TDA?
Silva - O lado bom de se ter TDA
é a energia, o impulso criativo, a
ousadia. Sabemos que essas características podem render ótimos frutos, assim como grandes
mancadas e alguns fracassos.
MENTES INQUIETAS - ENTENDENDO
MELHOR O MUNDO DAS PESSOAS
DISTRAÍDAS, IMPULSIVAS E
HIPERATIVAS. De: Ana Beatriz Barbosa
Silva. Editora: Gente. Quanto: R$ 29.
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