São Paulo, segunda, 2 de novembro de 1998

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OPINIÃO
Educação e desenvolvimento

ELLIS WAYNE BROWN

A integração entre universidade e empresa é um fator de importância fundamental no desenvolvimento socioeconômico do país. Ela não só deve fornecer quadros funcionais capacitados como também contribuir para o aumento da competitividade, por meio de programas conjuntos de desenvolvimento tecnológico. O produto social do desenvolvimento competitivo reflete-se, em última análise, na elevação da oferta de trabalho e da qualidade de vida dos cidadãos.
Existe hoje uma tendência de flexibilização curricular por parte do Ministério da Educação. Ela deverá permitir aproximação maior entre os cursos universitários e a configuração do mercado de trabalho. Qualidade na educação não se define só por qualificação e dedicação dos docentes; inclui a adequação dos conteúdos programáticos a objetivos funcionais significativos e claramente definidos.
Se a flexibilização curricular não ocorrer, os cursos de graduação continuarão engessados a exigências determinadas por comissões de especialistas do MEC, inviabilizando, com isso, parcerias com setores empresariais para o desenvolvimento de cursos efetivamente dirigidos às suas necessidades.
Isso seria lamentável para as empresas e para os egressos dos cursos. Hoje, os currículos de graduação levam à formação de generalistas, que entendem quase nada de quase tudo e precisam buscar na pós-graduação uma especialização. O desejável seria uma graduação específica, dirigida à profissionalização e a empregabilidade imediata, e uma pós mais abrangente, multidisciplinar e analítica (como os MBAs), voltada ao desenvolvimento de carreira.
Mesmo assim, a dinâmica na geração do conhecimento exige dos profissionais atualização constante. As áreas de ponta se obsoletizam em ciclos cada vez mais curtos, e os desafios da administração são renovados a cada dia. Isso demanda da educação uma rapidez de resposta cada vez maior.
Estamos na era da globalização do conhecimento e das oportunidades competitivas, que introduz a necessidade imperiosa da educação continuada, mesmo na modalidade "just in time". Desponta nesse cenário a educação à distância, com recursos da Internet, da videoconferência e da simulação virtual, hoje bastante acessíveis.
A reserva de mercado da legislação e o corporativismo que ronda as comissões de especialistas podem, ainda por algum tempo, bloquear o ingresso das universidades estrangeiras na área dos cursos que conferem titulação acadêmica; mas na área da educação continuada não existem barreiras.
Para atender a esse momento, as universidades e as empresas necessitam trabalhar juntas. A busca pela educação não pode ficar relegada às iniciativas individuais de cada profissional, assim como a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico não podem ser tratados como responsabilidade isolada de cada empresa dentro de um projeto de desenvolvimento nacional.
As empresas nacionais não têm economia de escala para investir nessa área; com isso, nunca ingressarão num padrão de competitividade global e o país nunca sairá do subdesenvolvimento.
As universidades públicas investem somas consideráveis em pesquisas, mais voltadas, contudo, à retroalimentação acadêmica do que ao desenvolvimento socioeconômico objetivo. As universidades privadas, muito recentes, buscam ainda a consolidação de seus modelos organizacionais de pesquisa.
Para gerar a aproximação de universidade e empresa no campo da pesquisa, seria conveniente a formulação de uma política objetiva por parte das agências de fomento do governo, que priorizasse, neste momento, os investimentos dirigidos ao desenvolvimento socioeconômico.
Existe uma nítida percepção das áreas críticas e das oportunidades na integração universidade/empresa, mas creio que faltam ainda interlocutores qualificados e politicamente motivados entre as partes envolvidas para concretizá-la. O pior pecado é o da omissão.


Ellis Wayne Brown, 48, mestre em comunicação social, é pró-reitor de planejamento da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo)



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