São Paulo, segunda, 2 de novembro de 1998

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SAÚDE
Hospital carioca, ligado à UFRJ, tem índice de contaminação pela doença dez vezes maior que a média nacional
Hospital tem risco maior
de tuberculose

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Um estudo realizado no HUCFF (Hospital Universitário Clementino Fraga Filho), ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostra que o risco de contaminação por tuberculose entre seus funcionários é dez vezes maior que a média nacional.
Entre funcionários do hospital, a taxa de infecção é de 8,2%. O índice nacional de contaminação é de 0,8%. Em países africanos com alta incidência de tuberculose, como Uganda, Zaire e Tanzânia, a taxa de infecção é de 2,5%.
Tomados isoladamente, médicos, enfermeiros e profissionais de saúde enfrentam risco ainda maior: 14%. Técnicos de laboratório têm risco de 10%, e funcionários administrativos, 0,9%. O risco também varia de acordo com o local de trabalho: entre profissionais que trabalham em emergências, por exemplo, chegou a 20%.
O pneumologista Afranio Kritski, autor do estudo, diz que os resultados são a amostra de um problema que começa a chegar aos centros urbanos brasileiros: a transmissão institucional da doença, que ocorre dentro de hospitais, presídios e asilos.
Causada por um bacilo, a tuberculose se transmite pelas vias respiratórias. Uma pessoa com tuberculose não diagnosticada está transmitindo a doença.
"A transmissão institucional não é um problema específico do nosso hospital. Ela acontece porque os hospitais gerais não têm programas contra a doença. A situação está fora de controle", afirma Kritski, que implantou no HUCFF o Programa de Controle de Tuberculose Hospitalar.
A Aids provocou um recrudescimento da tuberculose no mundo, porque as pessoas com HIV têm a imunidade reduzida e contraem a doença mais facilmente.
Para calcular o risco de tuberculose no hospital da UFRJ, Kritski realizou em 1.200 funcionários o teste de PPD- que detecta se a pessoa foi ou não contaminada pelo bacilo. Os exames foram feitos em 96 e repetidos em 97. Dos 600 funcionários que tiveram PPD negativo em 96, 8,2% estavam contaminados no ano seguinte.
Outro perigo para quem trabalha em hospitais é a tuberculose multirresistente -mais grave e de tratamento mais difícil.
Exames realizados com 5.000 pacientes sem HIV, indicaram um índice de apenas 0,9% de resistência à combinação de rifampicina e isoniazida, usada no combate à tuberculose, mas nos doentes de Aids, a resistência chega à 7%.
Kritski diz que o programa de combate à tuberculose lançado pelo governo federal não está contemplando a transmissão institucional da doença. "Até 96, 30% dos casos de tuberculose no Rio estavam em hospitais, e o governo precisa ver isso", afirma.



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