São Paulo, Quinta-feira, 02 de Dezembro de 1999


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SAÚDE
Em 91, havia 4,4 casos da doença para cada 100 mil jovens de 15 a 19 anos; número cai para 2 em 96
Incidência de Aids cai entre homens jovens e cresce nas outras faixas etárias

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Adolescentes durante passeata na avenida Paulista organizada pelo Fórum das ONGs que apóiam portadores do vírus HIV


VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha

A incidência de novos casos de Aids diminuiu 50% entre os jovens do sexo masculino com idade entre 15 e 19 anos e aumentou em todas as outras faixas etárias.
No caso das mulheres de 30 a 39 anos, a taxa mais que triplicou, passando de 5,8 casos por 100 mil habitantes em 91 para 18 em 96. Os dados são de 96 porque esse é o último ano com números oficiais fornecidos pelo IBGE.
Esses são alguns dos últimos dados que o Ministério da Saúde divulgou ontem sobre a doença no país. Em 91, entre rapazes de 15 a 19 anos, havia 4,4 casos novos para cada 100 mil habitantes. Já em 96, o número caiu para 2.
O coordenador nacional de DST/Aids, Pedro Chequer, atribuiu a redução ao uso de preservativos e à retração no uso de drogas injetáveis. Ele disse que o ministério pretende intensificar as ações de prevenção em crianças e adolescentes. Para o ministério, os jovens são mais receptivos aos efeitos das campanhas pelo uso de preservativo.
O infectologista David Uip, diretor da Casa da Aids, relativiza os números apresentados. Segundo ele, em termos de epidemiologia, esses números não podem ser interpretados como uma tendência para os dias atuais.
Isso porque os casos novos anuais de Aids computados pelo ministério refletem dados epidemiológicos de seis a dez anos atrás -tempo em que a infecção leva para se manifestar. Dessa forma, os últimos dados apresentados, de 1996, refletem, na verdade, os casos de infecção ocorridos de 1986 a 1990. "Não sabemos se essa queda se mantém ou não", diz.
Em 1996, uma pesquisa da Bemfam (Fundação do Bem-Estar da Família) mostrou que 90% dos jovens estavam informados sobre a Aids. Neste ano, pesquisa realizada pelo ministério indicou que 44% dos jovens entre 16 e 25 anos usam camisinha.
Outro indicador usado pelo ministério para explicar a baixa é o aumento na venda de preservativos. Em 92, foram comercializados 50 milhões. Em 98, 300 milhões, sem incluir os 50 milhões disponibilizados na rede pública.
Entre as mulheres, o número de casos aumentou em todas as faixas etárias. Nas que têm entre 20 e 29 anos, a incidência, que era de 5,9 em cada 100 mil habitantes em 91, subiu para 14,6 em 96. Na faixa de 30 a 39 anos, o índice de 5,8 para cada 100 mil habitantes em 91 chegou a 18 em 96. Nas que estão com 60 anos de idade ou mais, a incidência cresceu de 0,7 em 91 para 1,5 em 96.
Nem entre as mulheres com alta escolaridade houve redução. Segundo Chequer, "a inserção da mulher no processo de prevenção se deu tardiamente, por causa de um processo que aconteceu em boa parte do mundo, quando a Aids era vista como doença de homens e homossexuais".
No trimestre junho-agosto, 6.718 novos casos de Aids foram registrados no país, o que eleva para 170.073 o total acumulado desde 1980. O último estudo do ministério estima que existam no país 537 mil infectados com o vírus HIV. A Organização Mundial de Saúde previu que o número de casos de Aids no Brasil chegaria a 1,2 milhão no ano 2000.
O ministro José Serra disse que achou "muito ruins" os dois filmes da campanha da Aids que viu no auditório da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde). O primeiro comercial mostra um pai conversando sobre sexo com o filho. No segundo, uma mãe tem diálogo similar com a filha numa favela.
"A idéia é boa, mas não se escuta, é só música. Ninguém paga um filme da Aids para escutar música." Nos filmes, os pais aconselham os filhos adolescentes a contar-lhes o que acontece em relação a sexo.


Colaborou Priscila Lambert, da Reportagem Local


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