São Paulo, Quinta-feira, 02 de Dezembro de 1999


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Apuração política cassou 3 e livrou 8

da Reportagem Local

Além da polícia e dos promotores, também os vereadores e deputados investigaram a atuação da máfia da propina em SP. Tanto na Câmara quanto na Assembléia, essa "investigação política" já acabou. E sem atingir seu principal objetivo: cassar os mandatos de todos os vereadores acusados de envolvimento com corrupção.
Em três meses de investigação, a CPI criada na Câmara julgou apenas três vereadores. Dois deles foram cassados: Vicente Viscome e Maeli Vergniano. Hanna Garib, que se elegera deputado estadual, acabou cassado pela Assembléia.
Outro vereador denunciado pela CPI, José Izar (PST), foi a julgamento, mas conseguiu preservar o mandato após fazer um discurso intimidando os colegas parlamentares. O momento decisivo para a absolvição, na opinião dos vereadores, foi quando Izar afirmou ter "35 colegas" nas mãos.
Mas outros oito vereadores acusados nem sequer foram investigados, apesar de serem alvo da Polícia Civil e do Ministério Público. Continuam dando expediente na Câmara Municipal.
Dois deles, Paulo Roberto Faria Lima (PMDB) e Maria Helena Fontes (PL), já foram denunciados à Justiça e, se condenados, podem viver a inusitada situação de passarem as noites na cadeia e saírem durante o dia para participar das sessões da Câmara.
É a mesma situação pela qual passou Vicente Viscome, preso no final de março e cassado apenas quatro meses depois.
Viscome continua na cadeia. Na cela ao lado, estão o estudante de medicina Mateus da Costa Meira, que matou três pessoas em um cinema no MorumbiShopping, e o ex-interno da Febem F.A.C., acusado de ter decapitado um adolescente durante uma rebelião.
"A CPI só conseguiu apurar 3% das denúncias envolvendo vereadores. Se não tivesse sido arquivada, a investigação atingiria o PAS e envolveria vários outros parlamentares", afirmou Dalton Silvano (PSDB), um dos membros da extinta CPI da máfia.
E foram justamente os vereadores investigados que enterraram a CPI e impediram a prorrogação da investigação por mais 90 dias. Em uma manobra armada por Wadih Mutran (PPB), 29 vereadores aprovaram a ampliação da CPI por apenas três dias, tornando impossível uma prorrogação maior. A manobra contou com o voto de 13 vereadores envolvidos em denúncias.
Mesmo após o fim da CPI, ocorreram novas tentativas de cassar mandatos de parlamentares acusados de cometer irregularidades. Mas o plenário voltou a impedir investigações, barrando a abertura de comissões processantes contra Faria Lima, Maria Helena, Ana Maria Quadros (PSDB) e Arselino Tatto (PT).
A última tentativa foi obra do Ministério Público, que pediu à Justiça o afastamento de Dito Salim (PPB) do Legislativo, pois ele poderia intimidar testemunhas. Mas a Justiça negou o pedido e Salim provavelmente continuará como vereador por mais um ano.
Se depender do Ministério Público, outros vereadores podem ficar sem mandato. "Até o final do ano, surgirão novidades e vereadores poderão ser afastados", afirma o promotor José Carlos Blat, que deve promover ações semelhantes à movida contra Salim.
Para o vereador José Eduardo Cardozo (PT), é a única chance de punições. "Se depender da Câmara, ninguém mais será punido. O corporativismo é grande."


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