São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2001

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OS DONOS DA EDUCAÇÃO

Três das quatro maiores universidades do país são privadas; Unip tem quase o dobro dos alunos da USP

"Conglomerados" dominam ensino superior

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Ao fundo, prédio da universidade Estácio de Sá no terreno do parque Terra Encantada, no Rio


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Dados do censo do ensino superior do Ministério da Educação mostram que três instituições particulares que nem sequer apareciam no ranking das 20 maiores universidades do país em 1991 hoje despontam como as maiores do Brasil. São verdadeiros conglomerados de ensino surgidos em menos de um década.
No início da década de 90, quase ninguém ouvia falar da Unip (Universidade Paulista), da Universidade Estácio de Sá e da Ulbra (Universidade Luterana Brasileira). Segundo o censo de 2000, elas agora ocupam o primeiro, o terceiro e o quarto lugar, respectivamente, em número de alunos de graduação do país. A USP (Universidade de São Paulo) ficou em segundo lugar.
A Unip, do empresário João Carlos Di Gênio, sediada em São Paulo, que já era a maior universidade brasileira em 1999, consolidou sua liderança em 2000. A instituição tinha 66.268 alunos, quase o dobro da segunda colocada, a USP, que tinha 34.801 no ano passado. A diferença entre a Unip e a USP, que era de 12.824 alunos em 1999, passou para 31.467 em 2000.
"Se a Unip é a maior universidade do país, isso decorre do fato de os campi terem sido implantados em localidades onde o colégio e o curso Objetivo encontravam-se instalados pelo menos dez anos antes", afirma Di Genio, que é dono também do grupo Objetivo. "Se o colégio Objetivo é o maior do Brasil, é natural que a Unip seja a maior universidade."
O segundo lugar da USP no ranking em 2000 já pode ser considerado coisa do passado, a julgar pelo apetite feroz de crescimento da Universidade Estácio de Sá, do juiz aposentado João Uchôa Cavalcantti Netto, com sede no Rio.
A instituição tinha 23.587 alunos em 1999. Em 2000, deu o impressionante salto de 41,6%, chegando a 34.005 alunos matriculados em cursos de graduação. A instituição informa que, neste ano, já está próxima dos 60 mil estudantes na graduação, sem contar 10 mil alunos de cursos sequenciais, de curta duração.
A Estácio, que era a oitava maior do Brasil e a segunda do Rio de Janeiro em 1999, chegou ao terceiro posto entre as maiores. Já deixou para trás a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a maior universidade federal do país, que tem 29.015 alunos e era, até 1999, a maior do Rio.
Próxima da Estácio de Sá em número de alunos e ainda com planos de crescer mais está a Ulbra, com sede no Rio Grande do Sul, mantida pela Comunidade Evangélica Luterana São Paulo.
O crescimento de 1999 para 2000 da Ulbra foi de 27,6%. No ano passado, ela chegou a 31.192 alunos na graduação, se consolidando como a maior universidade daquele Estado. Até 2005, a instituição espera ter 80 mil alunos na graduação.

Qualidade
No caso da Estácio e da Unip, pode-se dizer, com base nos resultados do provão, que a maioria dos cursos das duas instituições têm nível médio. Na Unip, 56% dos conceitos no exame desde 1996 foram C, enquanto na Estácio essa porcentagem é de 65,5%.
Na Unip, a porcentagem de cursos com bons conceitos (A ou B, os melhores) é de 22%, a mesma de cursos com os piores (D ou E). A Estácio tem 23% de cursos com A ou B e 11,5% com D ou E.
Na comparação com as duas instituições do eixo Rio-São Paulo, a gaúcha Ulbra tem desempenho superior: 48,6% de cursos com A e B, 33,3% com C e 18% com D ou E.
As três instituições privadas têm desempenho no provão inferior ao da USP, que ainda é, oficialmente, a segunda maior universidade do país em número de alunos na graduação.
O crescimento registrado nessas instituições não é um fator isolado. Os dados do Censo do Ensino Superior 2000 do MEC mostram, mais uma vez, que as matrículas em cursos de graduação cresceram principalmente por causa de instituições particulares.
A taxa de crescimento de alunos nessas instituições foi de 17,5% de 1999 para 2000. Entre as federais, o aumento foi de 9,1%, enquanto as estaduais apresentaram taxa de 9,8%. Na média, as matrículas em cursos de graduação cresceram 14% nesse período, o maior crescimento registrado na década.
Um dos fatores que explica o aumento na procura é a expansão do ensino médio. De 1996 a 2001, esse nível de ensino teve crescimento de 46,7% nas matrículas em todo o Brasil.



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