São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2001

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Di Genio transformou Unip em potência

DA SUCURSAL DO RIO

João Carlos di Genio, 62, dono da Unip, é citado pelos amigos como um educador que, com seu toque de Midas e pensamento inovador, transformou um curso pré-vestibular montado há 35 anos no bairro da Liberdade, em São Paulo, no maior complexo educacional do país.
Para os inimigos, é um empresário que teria usado sua ligação com pessoas no poder para obter benefícios e prejudicar a concorrência, chegando a interferir, por exemplo, em decisões recentes do CNE (Conselho Nacional de Educação) a favor da Unip. Yugo Okida, sócio de Di Genio e vice-reitor da Unip, é conselheiro do CNE.
Di Genio nunca escondeu as amizades com políticos influentes. Era amigo do deputado Ulysses Guimarães, foi padrinho de casamento de duas filhas do deputado Luís Eduardo Magalhães e tem ótimas relações com o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, estreitadas, segundo ele, após a morte de Luís Eduardo. Ele também é lembrado por parlamentares por ter dado emprego a perseguidos pelo regime militar.
Segundo o empresário, seu envolvimento com Ulysses se intensificou quando um dos netos do então deputado tornou-se aluno de uma das escolas de Di Genio.
"Quando se fala em ligação política, alguns se esquecem de que os políticos também têm família, filhos que estudam, e assim por diante. O deputado Luís Eduardo Magalhães também tinha um filho em nossa escola", afirmou Di Genio. Ele ressaltou que nunca se aproveitou de sua ligação com políticos para obter benefícios para suas escolas.
Não é o que pensam seus adversários. Depois de uma decisão do Conselho Nacional de Educação que vetou a instalação de um campus da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) em Osasco (região metropolitana de São Paulo), esta universidade acusou Di Genio de ter usado sua influência no conselho para impedir a concorrência.
Mais tarde, a Uniban acabou conseguindo na Justiça autorização para que o campus de Osasco pudesse funcionar.
O dono da Unip nega as acusações. Primeiro, afirma que a Unip nunca foi concorrente da Uniban. Segundo, diz que as decisões do conselho contra a Uniban foram tomadas por unanimidade e propostas pela ex-conselheira Eunice Durham, e não por Okida.
Por último, afirma que seu vice-reitor integra o CNE por ter sido indicado por nove instituições. Entre elas está a Anup (Associação Nacional de Universidades Particulares), mas a maioria não é ligada ao ensino particular.
O império educacional de Di Genio teve início há 35 anos, quando ele e três sócios (Drauzio Varella, Tadasi Ito e Roger Patti) abriram um curso de preparação para o vestibular de medicina. Seu pai, o italiano Carmine di Genio, foi contra a idéia, pois preferia o filho seguindo a carreira de cientista na área médica.
O cursinho deu impulso ao crescimento da rede de escolas Objetivo. A partir dessa base, segundo o empresário, ficou mais fácil montar, em pouco tempo, a maior universidade do país.
"Os campi da Unip foram sempre criados em locais em que o colégio e o curso já estavam instalados havia pelo menos dez anos. Os pais, com receio de que seus filhos fossem estudar em outras cidades, acabaram nos incentivando a instalar os novos campi."
O próximo censo do Ministério da Educação, referente às matrículas de 2001, deve mostrar um crescimento ainda maior da Unip. Segundo Di Genio, a universidade chegou neste ano a 78 mil alunos na graduação e cerca de 4.000 professores, o que dá uma média de 19,5 alunos por professor. Pelo censo de 2000, a universidade tinha 66.268 estudantes no ano passado.
Ele afirma, no entanto, que não há previsão de mais crescimento. "Abrir mais vagas, no ensino superior particular, para alunos que são oriundos em grande parte de escolas públicas e não têm recursos para pagar mensalidades somente se justifica se houver aumento substancial no número de estudantes com financiamento", diz. O preço médio das mensalidades da Unip é R$ 500.
Segundo o empresário, o ensino superior privado já não é mais tão lucrativo quanto se pensa: "Acredito que 2002 será um ano muito difícil para as instituições de ensino superior de modo geral, devido à enorme competitividade decorrente da abertura de novas faculdades, ao aumento de 50% das vagas nas faculdades já existentes e ao crescimento vertiginoso da inadimplência", afirma.


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