São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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FAB resgata grupo isolado havia oito dias

FERNANDO DONASCI
ENVIADO ESPECIAL A LUÍS ALVES

Um grupo de 41 moradores do Braço do Francês, em Luiz Alves, não via a hora de escapar de uma área de risco isolada havia oito dias. Alguns tentaram por terra, mas pararam nas barreiras das estradas. Tiveram que aguardar até ontem, quando três helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira) chegaram para resgatá-los.
A reportagem acompanhou no final da tarde o resgate do grupo, aglomerado num abrigo improvisado. No rosto das crianças, a expressão de pânico e de choro -talvez assustadas, talvez por medo dos helicópteros, talvez por medo de abandonar suas casas.
No grupo, uma mulher de 52 anos com a perna engessada por ter tentado salvar da morte seu filho de 13 anos. "Era muita água. Caí no buraco e quebrei a perna", contou Nadir Maria Schimidt. A casa dela foi invadida pela chuva. Ao tentar salvar alguns pertences, foi surpreendida pela altura da água quando retornava ao imóvel. Correu para resgatar seu filho e se acidentou. No final, foi ele quem a tirou do buraco.
Ontem, os moradores só conseguiram levar documentos e bens mais leves. Cada um levava uma pequena sacola -com poucas mudas de roupas.
Alguns estavam no abrigo desde domingo da semana anterior. Outros só correram para lá nos últimos quatro dias, devido à ordem da Defesa Civil para que abandonassem suas casas. Segundo eles, comida e água não faltavam. Mas todos pareciam nervosos por ficarem entre os últimos a serem atendidos pelas equipes de resgate.
Os helicópteros da FAB sobrevoaram a área do Braço do Francês, onde os deslizamentos, embora não tão próximos do abrigo, ainda ameaçam avançar. Na chegada ao campo, às 18h, os militares anunciavam nome a nome a lista preparada pela Defesa Civil.
Simone Blublitz, com a filha de dois meses no colo e outros sete filhos faziam parte da lista. "Vivíamos uma vida tranqüila antes da tragédia", disse ela. O cunhado e a nora não responderam à convocação -foram dos poucos que não quiseram sair do bairro.
Já a família Felberg aguardava ansiosamente pelo resgate. Edílson, 16, ficou à espera do helicóptero da hora do almoço ao final da tarde. "De manhã, quando fomos lavar a roupa, meu tio foi avisado para a gente se aprontar logo. Disseram que a terra do morro iria descer."
Jaldira Felberg, 55, mãe de Edílson, fez questão de pedir à reportagem para que colocasse seu nome no jornal para provar que a família estava viva -só pensava em tranqüilizar seu irmão, que mora em outra região. "Eles ainda não escutaram nosso nome na televisão."


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