São Paulo, Quinta-feira, 03 de Fevereiro de 2000


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INCULTA & BELA

Melhor e mais bom

PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha

Na semana passada, deixei pendentes dois assuntos: o comparativo aplicado a qualidades do mesmo ser e a diferença entre o grau superlativo e o comparativo. Se um adjetivo é usado para estabelecer uma relação entre duas músicas, por exemplo, o grau é comparativo: "A antológica "Sabiá", de Tom e Chico, era mais bonita que (ou "do que") "Caminhando", de Vandré". O advérbio "mais" coloca o adjetivo "bonita" no grau comparativo de superioridade. Essa estrutura comparativa pode ser fechada com "que" ou "do que": "Ela é mais alta que/ do que você". Se se afirmasse que "Sabiá" é a música mais bonita de todos os festivais, o adjetivo estaria no grau superlativo relativo. Seria estabelecida uma relação entre um elemento de um conjunto e todos os outros elementos do mesmo conjunto. É o que ocorre em casos como "o jogador mais habilidoso do time", "o poeta mais criativo dessa escola literária", "o deputado mais informado da Câmara dos Deputados" etc. O superlativo também pode ser absoluto, o que ocorre quando se eleva ao extremo uma qualidade de um ser sem relacioná-la explícita e diretamente com a de outros seres: "Ela é lindíssima", "O filho é muito inteligente", "O escritor é celebérrimo" etc. Pois bem. Na semana passada, vimos que alguns comparativos são irregulares, como "pior" (que equivale a "mais mau"), "menor" ("mais pequeno"), "melhor" ("mais bom") e "maior" ("mais grande"). Nunca se pode usar "mais bom", "mais grande"? Vamos ver. Uma casa é "maior" ou "mais grande" do que outra? É maior, sem dúvida. Imagine agora uma casa grande, porém pouco confortável, mal dividida. Alguém pode perfeitamente dizer que a casa é "mais grande do que confortável". Nesse caso, a forma "mais grande" é corretíssima, já que não se estabelece relação entre uma qualidade de dois seres, mas entre duas qualidades de um mesmo ser. Aplica-se esse raciocínio com "mais bom" e "mais mau". Não se diz que um carro é "mais bom (ou "mais mau") do que outro", mas, se um homem ora é bom, ora é mau, diz-se que ele é "mais bom do que mau", ou que é "mais mau do que bom". É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail: inculta@uol.com.br


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