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INCULTA & BELA
Melhor e mais bom
PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha
Na semana passada, deixei
pendentes dois assuntos: o
comparativo aplicado a qualidades do mesmo ser e a diferença entre o grau superlativo
e o comparativo.
Se um adjetivo é usado para
estabelecer uma relação entre
duas músicas, por exemplo, o
grau é comparativo: "A antológica "Sabiá", de Tom e Chico,
era mais bonita que (ou "do
que") "Caminhando", de Vandré". O advérbio "mais" coloca
o adjetivo "bonita" no grau
comparativo de superioridade.
Essa estrutura comparativa
pode ser fechada com "que" ou
"do que": "Ela é mais alta que/
do que você".
Se se afirmasse que "Sabiá" é
a música mais bonita de todos
os festivais, o adjetivo estaria
no grau superlativo relativo.
Seria estabelecida uma relação
entre um elemento de um conjunto e todos os outros elementos do mesmo conjunto.
É o que ocorre em casos como
"o jogador mais habilidoso do
time", "o poeta mais criativo
dessa escola literária", "o deputado mais informado da Câmara dos Deputados" etc.
O superlativo também pode
ser absoluto, o que ocorre
quando se eleva ao extremo
uma qualidade de um ser sem
relacioná-la explícita e diretamente com a de outros seres:
"Ela é lindíssima", "O filho é
muito inteligente", "O escritor
é celebérrimo" etc.
Pois bem. Na semana passada, vimos que alguns comparativos são irregulares, como
"pior" (que equivale a "mais
mau"), "menor" ("mais pequeno"), "melhor" ("mais bom") e
"maior" ("mais grande").
Nunca se pode usar "mais
bom", "mais grande"? Vamos
ver. Uma casa é "maior" ou
"mais grande" do que outra? É
maior, sem dúvida.
Imagine agora uma casa
grande, porém pouco confortável, mal dividida. Alguém pode
perfeitamente dizer que a casa
é "mais grande do que confortável". Nesse caso, a forma
"mais grande" é corretíssima,
já que não se estabelece relação
entre uma qualidade de dois
seres, mas entre duas qualidades de um mesmo ser.
Aplica-se esse raciocínio com
"mais bom" e "mais mau".
Não se diz que um carro é
"mais bom (ou "mais mau")
do que outro", mas, se um homem ora é bom, ora é mau,
diz-se que ele é "mais bom do
que mau", ou que é "mais mau
do que bom". É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail: inculta@uol.com.br
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