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SÃO PAULO
Ministério Público analisa ligação entre o Executivo e jornal de entidade que acusa Folha de racismo
Promotor investiga anúncios da prefeitura
da Redação
O Ministério Público começa a
investigar hoje a ligação entre a
Prefeitura de São Paulo e a Associação Brasileira de Negros Progressistas, entidade responsável
pelo jornal "Trovão".
A prefeitura foi a única anunciante nos dois últimos números
do jornal, publicados em agosto e
novembro do ano passado.
O jornal publica reportagens
elogiosas ao prefeito. Na edição
de agosto, o título de capa era:
"Pitta, livre dos corruptos, ladrões
e oportunistas, dá a volta por cima". Às vésperas da eleição de 96,
o jornal teve uma edição extra pedindo que a comunidade negra
votasse no então candidato Pitta.
A associação também é responsável pela distribuição de panfletos pró-Pitta e com acusações de
que a Folha e o Datafolha são racistas e promovem uma campanha contra o prefeito.
Hoje, será designado promotor
para analisar a representação enviada pelo vereador Carlos Neder
(PT). O documento pede investigação sobre eventual nomeação
para cargos públicos de pessoas
ligadas à associação, desvio de
verba pública e veiculação indevida de publicidade institucional.
"Após a investigação, se comprovadas as irregularidades, o
Ministério Público deverá mover
uma ação civil pública de improbidade administrativa", disse o vice-secretário da Promotoria da
Cidadania, Luis Fernando Pinto
Junior. Segundo ele, as penas previstas incluem perda de mandato
e ressarcimento de prejuízos.
Legalmente, a Associação Brasileira de Negros Progressistas não
existe. A entidade não consta em
nenhum dos dez cartórios de registro da cidade.
O caso também será analisado
pelo TCM (Tribunal de Contas do
Município). "Recebi a representação do vereador e encaminhei para o conselheiro Eurípedes Sales",
disse o presidente do TCM, Walter Abrahão.
Advogados
Advogados ouvidos pela Folha
afirmam que a publicidade da
prefeitura no jornal "Trovão" é
questionável e deve ser objeto de
investigação. "A contratação desse jornal é irregular pelo simples
fato de ser um veículo de circulação restrita e não dar publicidade
efetiva aos atos da administração", diz Ricardo Penteado, especializado em direito eleitoral.
O "Trovão" tem uma circulação
declarada de 30 mil exemplares e
não tem periodicidade fixa.
A Constituição estabelece parâmetros para a publicação de
anúncios do poder público. Determina que a publicidade deve
ter caráter educativo, informativo
ou de orientação social.
Para Penteado, um veículo pequeno e desconhecido não se
presta aos fins previstos na Constituição. "O anúncio é feito, mas
não para a comunidade e sim para um grupo restrito."
Segundo Adilson Dallari, professor de direito administrativo
da PUC-SP, o Ministério Público
tem o dever de instaurar um inquérito. "O poder público não pode contratar qualquer um."
A prefeitura afirma que a distribuição dos anúncios obedece a
critérios técnicos, como circulação, periodicidade e público alvo.
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