São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2001

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MUNDO ANIMAL

Barulho e falta de higiene são as principais queixas; donos de bichos domésticos desconhecem legislação

Crescem denúncias contra donos de cães



DA REPORTAGEM LOCAL

O número de denúncias contra proprietários de animais domésticos -basicamente cães e gatos- dobrou nos últimos cinco anos na cidade de São Paulo, segundo o setor de Vigilância Zoossanitária, do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Em 1995, foram registradas 1.286 queixas, e, no ano passado, 2.528.
O aumento da população de animais, a febre dos pet shops, a maior divulgação do CCZ e a irresponsabilidade dos proprietários são as causas apontadas por especialistas para explicar o aumento de reclamações.
O barulho provocado pelos animais, a falta de higiene na criação e vizinhos que se sentem ameaçados por cães são as queixas mais frequentes.
"Quando você compra um aparelho, este vem com manual de instruções. O animal não", diz a advogada Mônica Grimaldi, especialista na área. "Tanto quem cria quanto quem se incomoda com os animais conhecem pouco dos seus direitos e deveres."
A juíza-diretora do Juizado Especial Cível Central (antigo Tribunal de Pequenas Causas), Mônica de Carvalho, afirma que o número de processos desse tipo não é representativo, "mas costumam chamar muita a atenção". Dos cerca de 55 mil processos conduzidos atualmente, cerca de cem referem-se aos animais. "São casos que envolvem emoção", diz.

Fezes na calçada
O ex-prefeito Jânio Quadros (1985-88) é o autor da lei que rege a posse de animais em São Paulo (nš 10.309/87). Considerada defasada, ela estabelece o limite de dez bichos por habitante, sem especificar o local -ou seja, pela legislação, é possível criar dez cães em um apartamento, por exemplo.
Há várias infrações previstas que são ignoradas pelos donos de cães e gatos. Quem não limpa as fezes depositadas nas calçadas está infringindo a lei, por exemplo.
Já o barulho provocado pelos cães não é previsto na lei, mas, hoje, é o principal motivo de ações na Justiça, de acordo com a juíza Mônica de Carvalho.
Segundo Dionísio Rebecca, responsável pela Vigilância Zoossanitária da CCZ, o departamento cuida somente dos casos que supostamente ferem os artigos da legislação municipal.
Acionada, a Vigilância vai ao local, inspeciona as condições em que são criados os animais e toma providências, como a aplicação de multa, cujos valores variam de R$ 5,37 a R$ 537,40.
"Essa lei está para cair", afirma a artista plástica Marizelda Bumajny, presidente da organização não-governamental SOS Bichos. "É completamente descabida."
Para Marizelda, a cidade vive uma espécie de "neurose coletiva" em relação aos animais.
A advogada Mônica Grimaldi confirma que muitas ações são motivadas por "vendetas pessoais" -ou briga de vizinhos. "Há pessoas que têm conflitos com outras e usam o cão como uma espécie de ponto fraco", diz.
Como ativista, Marizelda afirma que já perdeu a conta do número de animais que deu abrigo e tutela porque seus donos estavam sendo ameaçados ou processados.
Hoje, é ela quem enfrenta problemas com a vizinhança. Proprietária de vários cães e gatos, que ficam em sua casa na região dos Jardins (zona sudoeste), Marizelda está providenciando a transferência dos bichos para um sítio próximo de São Paulo. "Não estou sendo processada, mas sinto um clima de animosidade no ar", afirma a artista plástica.
Marizelda não revela quantos animais tem em casa. "Só digo que são mais de dez."


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